Durante séculos, a forma habitual de os regimes mudarem envolvia sangue, revoluções e confrontos, tanques e armas. Mas as democracias podem destruir-se por dentro, desgastar-se devagar, como uma corda que se vai corroendo até ficar presa por um fio e, finalmente, rebentar.
A atualidade traz, infelizmente, muita matéria de facto e de estudo nesta questão. Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, dois destacados académicos de Harvard na área da política, têm um livro publicado em 2018 que é uma análise fria sobre os processos que conduzem a uma falência democrática. Em Como Morrem as Democracias, os dois traçam os mecanismos que levam a que democracias tradicionais entrem em colapso, através do enfraquecimento das instituições fundamentais e do desgaste gradual de regras de convivência que se pensavam adquiridas. O texto revelou-se proverbial, porque antecipava a hipótese da contestação do resultado das eleições democráticas e livres, algo que Donald Trump veio efetivamente a fazer após as eleições de 2020 nos Estados Unidos da América e que culminou na invasão do Capitólio – uma desconchavada tentativa de golpe de Estado que serviu de lembrete para o que pode, de facto, suceder mesmo no país, que, há uma década, se apresentava como o líder do mundo livre.