Há 10 anos, juntamente com outros 80 mil espectadores, tive o privilégio de ocupar uma das cadeiras brancas do moderno estádio acabado de construir, num antigo terreno industrial do Leste de Londres, para assistir, com um misto de ansiedade e de ceticismo, à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2012. A curiosidade era alimentada por uma série de dúvidas que, antes de a sessão se iniciar, atravessavam certamente todos os presentes: como os ingleses iriam conseguir responder, sem caírem no ridículo, ao espetáculo absolutamente esmagador e grandioso que, quatro anos antes, os chineses tinham montado na abertura dos Jogos de Pequim? Face a essa comparação, com que imagem a Grã-Bretanha, herdeira do maior império global da História, passaria a ser vista por um mundo ainda a tentar sarar as feridas da crise financeira?
O desafio, como sabemos, foi superado, com distinção, em especial porque, sabiamente, o diretor da cerimónia, o cineasta Danny Boyle, evitou toda e qualquer comparação com o gigantismo e opulência dos chineses – que tinham aproveitado o palco dos Jogos Olímpicos para se apresentarem como a nova e poderosa superpotência que iria marcar o futuro. Assim, em vez da rigidez aristocrática de outros tempos, a cerimónia de Londres 2012 foi marcada pela modéstia, pelo orgulho na democracia (e por uma homenagem inesquecível a essa invenção inglesa chamada Serviço Nacional de Saúde) e ainda por uma característica muito britânica: o humor. De tal forma que até a rainha Isabel II aceitou participar no espetáculo e na construção dessa nova imagem da Grã-Bretanha, num sketch com James Bond e em que simulou lançar-se de paraquedas sobre o estádio, para, logo a seguir, surgir na tribuna de honra e cumprir o seu papel protocolar.