As previsões meteorológicas assustadoras obrigaram Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa a alterar as suas agendas e a cancelar as viagens programadas a Nova Iorque e a Moçambique, respetivamente. A seguir, já com quase todo o País em alerta vermelho e em seca extrema, os dois desdobraram-se em apelos, pedindo aos cidadãos que cumprissem as regras de emergência, ao mesmo tempo que procuravam atestar a prontidão dos serviços de proteção civil e de combate aos incêndios – prova de que as tragédias de 2017 continuam a ser uma cicatriz por sarar. A mensagem foi clara: face a uma onda de calor que podia bater recordes, não havia outra alternativa senão a de concentrar esforços e definir prioridades para tentar evitar o desastre. Independentemente da avaliação sobre se, nos últimos anos, foi feito tudo o que era preciso para impedir a repetição das tragédias, é importante que, perante ameaças desta magnitude, o topo do poder político realce a excecionalidade da tarefa e reafirme que ela tem de ser assumida, de forma preventiva, como um desígnio coletivo – com a certeza e a consciência de que haverá sempre incêndios. Perante circunstâncias excecionais, recomendam-se sempre medidas excecionais.
A grande questão é saber até que ponto estamos a viver, por estes dias, uma situação absolutamente excecional. Durante quanto mais tempo, neste século XXI, em que todos os anos se ultrapassam máximos de temperatura, uma onda de calor, ainda por cima em pleno verão, vai ser considerada algo surpreendente e inusitado? Será que estamos a assistir a um fenómeno excecional ou apenas ao início daquilo que será o novo normal? Será que as medidas excecionais deste verão vão passar a ser a norma nos próximos verões?