Não sabemos como nem quando vai acabar esta guerra, mas já todos temos a certeza de que, depois dela, a Europa não voltará a ser a mesma. A invasão da Ucrânia pela Rússia – um país que, apesar das sanções dos últimos anos, tinha conseguido criar uma relação de interdependência com muitas nações europeias, devido às suas reservas de gás e de petróleo – funcionou como um abre-olhos para todos os líderes do Velho Continente. E se a União Europeia foi formada para tentar impedir a repetição dos desastres que, durante décadas, flagelaram o seu espaço, a eclosão de uma guerra junto das suas fronteiras exige agora que ela se reinvente, em especial nas áreas críticas para a sua autonomia e independência, como a defesa, a segurança, a energia, a alimentação e a economia. E, desta vez, não há mesmo alternativa: num mundo em grande transformação, em que todos os atores – principais e secundários – estão em movimento, a ensaiar novas alianças ou a experimentar confluências de interesses, a Europa só poderá manter a sua relevância se conseguir reafirmar-se como potência geoestratégica, menos dependente de terceiros, mas capaz de ser uma referência para todos.
Há uma boa notícia: essa reinvenção já está em marcha e em passo acelerado – numa corrida contra o tempo. Até ao momento, e em resposta à ameaça russa, a União Europeia tem conseguido honrar o seu nome e mostrar-se muito mais unida do que sucedeu noutras crises, no passado. Aprendeu a lição da pandemia e privilegiou a resposta coordenada, a única eficaz nestas situações. Foi rápida a decretar sanções contra Moscovo e não hesitou em desbloquear mecanismos pouco usados para auxiliar militarmente a Ucrânia, bem como os seus refugiados. Apressou a discussão e conclusão da sua estratégia de defesa, pensada para o longo prazo, e que vai obrigar a um muito maior esforço de todos os Estados-membros. Começou a libertar-se das amarras orçamentais que emperravam as decisões sobre quaisquer planos para salvar e estimular a economia. É preciso, agora, que essa desenvoltura se mantenha na área estratégica da energia, não só para responder à emergência do combate à subida dos preços mas também para preparar um futuro sem combustíveis fósseis – cada vez mais urgente e inevitável.