A lógica das campanhas eleitorais é mesmo assim: durante algumas semanas, através de frases curtas, repetidas à cadência com que são valorizadas ou reprovadas nos estudos de opinião, os candidatos embarcam na missão de se apresentar aos eleitores com as soluções mais adequadas para todo e qualquer problema. Algumas das propostas servem para vincar diferenças face aos adversários, outras são usadas para ganhar espaço mediático e, finalmente, há aquelas que se exibem como a panaceia, uma espécie de cura milagrosa sem contraindicações nem efeitos secundários prejudiciais. Nos últimos tempos, metade destas curas promete redução de impostos, enquanto a outra metade acena com a subida do poder de compra. No meio disto tudo, se elencarmos todas as propostas e promessas que vão subindo de tom e de alcance, à medida que nos aproximamos da data da votação, até podemos ficar com a ideia de que vivemos num país com recursos extraordinários, só à espera da “varinha mágica” que nos equipare às nações mais ricas da Europa.
Sabemos todos, no entanto, que não é assim. Sabemos – ou tínhamos, no mínimo, a obrigação de não nos esquecermos – que continuamos a ser um dos países com uma das maiores dívidas públicas do mundo, que o nosso tecido económico e empresarial é de uma grande fragilidade e sempre muito dependente do Estado, que quase já não temos grandes empresas de referência, que nos aproximamos de um inverno demográfico tão inevitável quanto o silêncio que tem rodeado o debate a seu respeito. E se, para contrariar o pessimismo, podemos procurar ânimo no facto de termos, atualmente, a geração mais bem preparada de sempre, a verdade é que também aí precisamos de ser comedidos, já que o mesmo pode ser dito e declarado por muitos outros países europeus, em especial por aqueles que, há décadas, sempre estiveram muito à nossa frente em matéria de educação.