No livro O Quase Fim do Mundo, imagina-se a vida na Terra pós-apocalipse. Nesta distopia, em que quase toda a vida na terra é aniquilada, um grupo de sobreviventes tem a oportunidade de começar de novo: redesenhar a sociedade num mundo em que muitas das regras anteriores já não fazem sentido. A dada altura, Simba Ukolo, o médico que é a personagem central da obra do escritor angolano Pepetela, diz: “Acho que a única regra necessária é a do bom senso.” Infelizmente, ela não foi suficiente. Bom senso é coisa que não se pode garantir, quando a natureza humana, com os seus conflitos e idiossincrasias, vem ao de cima no meio do caos.
Vivemos não um quase fim de mundo, mas uma pandemia, que de certa maneira, anda lá perto. Pela natureza das circunstâncias, também obriga a reformular modos de vida, formas de nos relacionarmos com os outros e a própria relação entre o Estado e os cidadãos. E eu sinto-me como Simba Ukolo, a insistir que a regra fundamental tem de ser a do bom senso.