O PS tem uma malapata com maiorias absolutas. O trauma vem desde 1985, a única vez em que, sem pudores, a solicitou. Almeida Santos encheu o País com cartazes a pedir 43% e conseguiu apenas uns escassos 20,8%, os piores resultados de sempre conseguidos pelos socialistas. A chegada fulgurante do PRD, que obteve quase 18%, fez encolher o partido à sua mínima escala. Um dos maiores arrependimentos de António Guterres em matéria política foi não tê-la pedido abertamente, em 1999, e acabar por lhe ter faltado “um bocadinho assim”, que é como quem diz um deputado para desempatar. José Sócrates, sem a pedir com convicção em 2005, acabou por conseguir a única maioria absoluta do Partido Socialista. Mas quando, nas eleições seguintes, finalmente a pediu, em 2009, não foi além da relativa.
António Costa tem seguido a escola do partido e prefere falar de maiorias “reforçadas”, de maiorias “expressivas”, de maiorias “inequívocas”… fugindo, como o diabo da cruz, da palavra “absoluta”. E quanto mais convencidos estão os líderes socialistas de que a podem ter, mais fogem da palavra para não ostracizarem o eleitorado que não gosta dela, seja por princípio seja por má memória – o que acontece sobretudo à esquerda, depois de duas maiorias absolutas de Cavaco Silva. “As maiorias absolutas não se pedem, conquistam-se”, dizia Costa à VISÃO, em 2019. Agora, entre a espada e a parede, não lhe resta outra alternativa senão a de revistar estas palavras.