Se houve coisa que a pandemia da Covid-19 mostrou foi a enorme capacidade de alheamento e negação do ser humano perante claríssimas evidências. Mesmo com o lastro de morte e devastação de uma pandemia global à vista, com mortos, hospitalizados e testemunhos permanentes de dor e sofrimento ao nosso lado, há quem, ainda assim, consiga negar a existência do risco e recusar ouvir o que dizem médicos, cientistas e governantes. Tenho pensado muito nisso quando vejo a outra gravíssima ameaça global que temos neste momento entre mãos, e que é muito menos percetível a olho nu, tanto nos efeitos imediatos como no seu nexo de causalidade: as alterações climáticas.
É certo que somos confrontados diariamente com as notícias do resultado do sobreaquecimento do planeta. Os furacões, como o Ida esta semana, estão a avançar tão rápido e de forma tão intensa que os sistemas de emergência não conseguem dar resposta. Há incêndios por todo o mundo cada vez mais incontroláveis. Cheias e inundações mortais em países desenvolvidos. Secas extremas e escassez de água mais frequentes. O degelo é tão grande que, só num mês, a Gronelândia perdeu o suficiente para cobrir Portugal de água com dez centímetros. Só que estes casos não só raramente nos tocam a nós de forma direta, como os fenómenos não trazem a etiqueta preto no branco da sua causa. É preciso conhecimentos científicos mínimos para perceber que tudo isto está relacionado, coisa que não está generalizada.