Num mundo outra vez dividido entre duas superpotências, a Europa só pode afirmar-se através do brilho e da transcendência dos seus valores. Foi assim que o projeto, que nasceu como uma comunidade económica, acabou por crescer para uma União e criar um espaço singular no planeta – em que os seus cidadãos circulam de uma forma tão livre quanto as suas ideias e sabem que, mesmo passando as linhas de fronteira, continuam a ser respeitadas as suas liberdades e escolhas. A defesa desses valores comuns foi a argamassa que permitiu construir décadas inéditas de paz e de prosperidade, no continente onde nasceram os ideais inspiradores do Iluminismo mas também algumas das teorias mais terríveis e ditatoriais que assolaram o planeta.
Este tempo duradouro de paz e de liberdade, num conjunto de países que passaram séculos a enfrentar-se, faz-nos cair na ilusão de pensar que a democracia é já algo adquirido e imutável nesta Europa a que nós escolhemos pertencer. Esquecemo-nos, porém, de que a democracia é uma invenção recente em termos históricos, mesmo que as suas raízes fundadoras possam estar no pensamento dos filósofos da Grécia Antiga. Mais: a democracia é um sistema frágil por natureza e nem sempre possui a melhor imunidade para se defender dos ataques dos populistas autoritários, como a História recente tem demonstrado, por vezes até de uma forma a roçar a caricatura.