Professora: Qual é a diferença entre um desastre eleitoral e um resultado jeitoso? Zequinha: 0,4%, sra. professora! Porque quando em outubro o PS teve mais 8,5% do que o PSD, eles acharam que houve um desastre. E agora que perderam por 8,1%, acham que tiveram um resultado jeitoso.” Foi com esta graçola tola, a falar para a oposição interna, que Rui Rio comentou no Twitter o desfecho provisório da corrida à liderança no maior partido da oposição.
Coisa inédita na história do partido, há uma segunda volta no PSD, que colocará frente a frente Rui Rio, que conseguiu o pior resultado numas eleições legislativas em 36 anos, e Luís Montenegro, cujo projeto para o partido não se percebe bem qual é ou o que faria diferente. O pequeno entusiasmo que o congresso gerou é sintomático da pífia mobilização que o PSD consegue hoje no País.
Rui Rio, todos sabemos, tinha uma tarefa difícil pela frente quando assumiu a liderança no início de 2018, depois da travessia no deserto que Pedro Passos Coelho, apesar de todas as falhas e do discurso bafiento, assegurou. O bom momentum à esquerda, com o propalar do virar da página da austeridade, a recuperação económica, os brilharetes orçamentais, tornaria garantidamente difícil a vida para o principal partido da oposição. Nestas circunstâncias, havia três caminhos possíveis: 1. remar desesperadamente contra a corrente, negando todas as evidências de melhoria e fazendo uma oposição irresponsável; 2. tentar navegar à bolina e escolher os momentos e dossiers estratégicos em que apostar e marcar a diferença face à esquerda; 3. hastear as velas e deixar–se ir com o vento em direção ao cabo das tormentas. A opção de Rui Rio foi, infelizmente, esta última: uma liderança errática, que oscilou entre oferecer-se para ser a muleta do PS e aliar-se à esquerda a favor do despesismo, colocou-o agora nesta circunstância. Nem mesmo o seu partido, encolhido no número de militantes votantes e tomado pelo aparelho, conseguiu acreditar nele à primeira.
O que importa agora é o dia seguinte à segunda volta. E as coisas não se afiguram, para já, famosas. Há, neste momento, um crescente espetro de eleitores à direita do centro órfãos de uma liderança. Alguns são eleitores clássicos do PSD, que toda a vida votaram no partido, e que estão cansados da mesma lengalenga de sempre. Que querem algo novo e não veem no PSD o discurso reformista, com estratégia e ideias mobilizadoras, capaz de fazer frente a uma esquerda politicamente hábil.
E, à falta de melhor, já que a alternativa clássica à direita (CDS) também não traz nada de novo, voltam-se para as novas opções: o populista Chega, que sabe aproveitar cada momento para somar simpatias no eleitorado que determinou como alvo, e a Iniciativa Liberal, que até agora se revelou muito mais forte em campanha do que na Assembleia.
Seja com Rui Rio ou com qualquer um dos outros dois candidatos que foram a votos no PSD, parece certo que os tempos das maiorias absolutas laranjas acabaram por longos anos. Vai ser preciso fazer pontes, conversar e trabalhar acordos ou coligações. E tudo isto sem desbaratar o capital de confiança e o eleitorado fiel que ainda sobra. Uma coisa é certa: não será pelo caminho das boutades e graçolas que se chega lá…