O novo ano inicia-se com uma série de incertezas, de grande dimensão, que prometem marcar o mundo nos próximos tempos, bem para além das folhas do calendário de 2019: até onde escalará a guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China? Qual será a nova “loucura” de Donald Trump? E a nova “jogada” de Vladimir Putin? Como se irá desenvolver o conflito cada vez mais tenso entre a Arábia Saudita e o Irão? Que papel poderão querer assumir a Turquia e a Índia na nova ordem mundial? Qual a influência que a presidência de Jair Bolsonaro vai efetivamente ter no jogo político da América Latina? Iremos viver uma nova crise económica global? Quantos postos de trabalho serão substituídos pela Inteligência Artificial? Qual a nova surpresa que vamos ter acerca dos efeitos das alterações climáticas?
No meio de tanta incerteza, temos uma certeza: este vai ser o ano decisivo para o futuro da União Europeia. A sucessão de acontecimentos que se prevê que ocorram ao longo dos próximos meses é de tal ordem que não custa admitir que 2019 pode vir a transformar-se numa espécie de ano zero de uma nova era europeia, um marco que marcará um antes e um depois na vida do Velho Continente. Nada voltará a ser como antes – para o bem ou… para o mal.
São muitos os desafios que se apresentam à Europa nos próximos meses: a dúvida sobre se o Brexit sempre se concretiza, em que circunstâncias e com que custos; a possibilidade de a América de Trump iniciar outra guerra comercial com a Europa, por causa da sua irritação com a quantidade de carros alemães que ele vê a circular em Nova Iorque; a incerteza sobre a estabilidade governativa numa série de países; o crescimento da deriva autoritária em grande parte das antigas nações do Leste, e, acima de tudo, o espaço que os movimentos populistas e antieuropeístas poderão ganhar nas próximas eleições europeias.
As datas estão marcadas, com tinta de alarme, num calendário europeu em que se irão realizar sufrágios importantes numa vintena de países (entre os quais, Portugal): a 29 de março, o Reino Unido corta as amarras e a União Europeia fica reduzida a 27 países; de 23 a 26 de maio, os eleitores escolhem os seus novos representantes no Parlamento Europeu e, se se mantiver a tendência registada nos últimos tempos, tanto em eleições nacionais como locais, tudo indica que a distribuição de lugares e o peso das forças políticas tradicionais podem conhecer uma autêntica revolução.
Como o novo Parlamento Europeu vai, já em 2020, ter uma palavra decisiva sobre o orçamento de longo prazo da UE, que irá marcar as políticas e as apostas europeias até 2027, nunca umas eleições europeias terão sido tão importantes como as do próximo maio. Até porque, numa época em que a Europa vai deixando cada vez mais de estar no centro do mundo, qualquer brecha na sua unidade, acentuada nomeadamente pelo desinteresse dos eleitores, será aproveitada pelos países que querem ocupar o seu lugar, tanto a nível económico como na influência política e cultural.
Numa época de grandes desafios e ameaças, num mundo em profunda transformação e à procura de um novo equilíbrio, a União Europeia não precisa de se reinventar por completo, como alguns defendem. O que ela precisa é de regressar às suas origens e à pureza dos seus ideais: ser, de facto, uma união para garantir a paz, promover o desenvolvimento económico, reforçar a democracia e estimular a coesão social. Foram esses valores que, ao longo de décadas, fizeram com que as populações de muitas nações quisessem aderir genuinamente à União Europeia e o celebrassem com alegria nas ruas, sempre que esse objetivo era alcançado.
Essa euforia perdeu-se, entretanto, não por culpa dos princípios, mas por causa da opacidade e da cegueira com que a Europa passou a ser comandada, longe da transparência e dos princípios de solidariedade que lhe deviam ser inerentes. É isso que precisa de ser mudado, para que volte o sonho europeu – já em 2019.
(Editorial da VISÃO 1347, de 27 de dezembro de 2018)