Agora sim, a casa está quase arrumada. CDS e PSD fizeram os respetivos congressos: um mudou de líder, o outro de atitude. Dos partidos que falta reunirem-se em conclave só do PCP, com trabalhos marcados para dezembro, se admite que surja alguma alteração: pode mudar o secretário-geral (ou dar-se início ao processo de mudança), mas o rumo não deverá alterar-se. Quanto à convenção do BE e ao Congresso do PS, marcados para junho, nada mais deverão fazer do que ratificar o caminho que está a ser seguido. Isto, claro, se a evolução da Economia o permitir e as previsões do OE 2016 não se afastarem muito da realidade.
Passos tem fé em que não será assim. Acredita que o tempo lhe dará razão e por isso o PSD esqueceu as eleições a curto prazo. Mas vai manter-se fiel ao princípio de que o Governo deve atuar de acordo com a sua vontade. Passos quer que falhe sem poder vitimizar-se com a oposição.
O preço a pagar é não apresentar propostas, como fez no debate do OE.
Do lado da “geringonça” ninguém puxa a corda. Costa vai intervalando entre as ações de Governo e as de campanha eleitoral. Faz e fatura. Assina, com pompa, acordos com escassos compromissos e assim sobe a pulso nas sondagens. A verdade é que já foi até onde não se previa e hoje são mais os comentadores a adivinhar o fim próximo do Executivo do que adversários da “geringonça” a vaticinar-lhe o fim.
Com um BE compreensivo, só o ortodoxo PCP vai causando dores de cabeça. Como aconteceu com a oposição dos comunistas à condenação do regime angolano, pretendida pelo PS e pelo BE a propósito das penas de prisão aplicadas a Luaty Beirão e companheiros. O inenarrável argumento de que o PCP “reafirma (.) o respeito pela soberania da República de Angola, o direito do seu povo a decidir livre de pressões e ingerências externas o seu presente e futuro, incluindo a escolha do caminho para a superação dos reais problemas de Angola e a realização dos seus legítimos anseios” só pode ter feito corar os parceiros de coligação. Nada, porém, que uma boa capacidade de encaixe e um baixar de olhos não disfarce, sobretudo quando não se quer explorar a divergência.
Por muito que se se autoproclame a prevalência da política sobre a Economia, a verdade é que voltamos a uma situação em que vai ser a evolução económica a determinar as estratégias partidárias. Corram bem as contas e tudo se perdoa. Quando a razão não se impõe, manda o dinheiro.
No paraíso da ilegalidade Sempre que a conversa é sobre empresas em offshores, acaba com histórias de fugas a impostos, branqueamento de capitais, corrupção, financiamentos ilícitos de campanhas, tráfico de armas ou de estupefacientes, apoios a grupos criminosos terroristas incluídos. Não há quem as defenda, mas também não há quem as extermine. São como os cogumelos venenosos, e, tal como estes, multiplicam-se.
Os países que criaram paraísos e zonas francas (na Madeira há uma) canalizam para os seus cofres receitas que de outra forma lhes escapariam, mas neles entra apenas uma migalha do que seria cobrado se tudo corresse pelos circuitos normais. A assética Suíça tem mais de dois biliões de euros nas suas offshores e um estudo que citamos nesta edição aponta para que haja entre 21 e 32 biliões de euros escondidos em paraísos fiscais.
Um dos resultados é que a Europa, num ano, perdeu 71 mil milhões na cobrança de impostos.
De Portugal saem dois milhões por dia para paraísos fiscais.
Se deles nada de bom se espera, florescem porquê? Só há uma resposta: por servirem quem tem poder, muito poder e quer ainda mais poder. Escondem, não só dinheiro lícito mas sobretudo ilícito, com muitos criminosos por detrás.
A desculpa, eterna, é que acabar com os paraísos fiscais exige cooperação entre as políticas fiscais dos diversos países. E há sempre alguém que tem o conveniente grãozinho para pôr na engrenagem.