Estima-se que até 10% dos indivíduos tenham ativamente ou já tenham tido relações sexuais com pessoas do mesmo sexo. Ainda assim, os fatores biológicos que determinam esta orientação sexual permanecem relativamente desconhecidos. Sabe-se por exemplo que é comum que gémeos idênticos partilhem a mesma orientação sexual ou que, dentro da mesma família, existam vários indivíduos com orientações sexuais semelhantes. Contudo, o papel da genética neste tópico permanece relativamente desconhecido e é ainda uma incógnita quais os processos biológicos que podem definira orientação sexual de cada indivíduo.
Vim hoje falar-vos de um estudo relativamente recente que foi realizado em vários países e colocou aos seus participantes uma questão muito simples: já alguma vez tiveram relações sexuais com alguém do mesmo sexo? Depois, os participantes foram sujeitos a uma análise genética e os resultados foram comparados com as suas respostas. O que se procurou foram genes que pudessem ser comuns a todas as pessoas que tivessem respondido ‘sim’ à pergunta anterior. Primeiro, foi claro que indivíduos com um grau de parentesco próximo têm uma maior probabilidade de responder da mesma forma à pergunta colocada, o que corrobora investigações anteriores que já referi. Depois, os resultados sugerem que a orientação sexual não está atribuída a um ou mais genes específicos, mas sim a alterações muito pequenas em vários genes ao longo de todo o material genético. Assim, é possível concluir que aquilo que foi referido no passado como o ‘gene gay’ não existe. Os investigadores responsáveis por este estudo encontraram 5 pequenas alterações genéticas que parecem ser muito significativas na determinação da orientação sexual. Eles também realçam que há certamente muitas mais que não conseguiram identificar e que a genética que determina a preferência sexual é muito complexa e envolve muitos fatores. Por último, o estudo também sugere que os genes determinantes na orientação sexual podem ser diferentes entre pessoas do sexo masculino e pessoas do sexo feminino.
Ainda que a pergunta colocada possa parecer redutora,este estudo é um bom ponto de partida para este tópico. De futuro, pode ser interessante ter em conta a grande variedade de orientações sexuais possíveis e perceber como a genética pode influenciar cada uma. Há ainda a questão de identidade de género que praticamente não foi explorada de um ponto de vista genético. O estudo que foi realizado vem ainda relançara discussão antiga de qual dos dois fatores mais influencia a orientação sexual: se a genética, se o ambiente. Apesar das suas conclusões, os investigadores não descartam que o ambiente possa também exercer a sua influência.
Ao longo de anos, muitos classificaram a atração por pessoas do mesmo sexo como uma doença e há um certo medo de que estudos como este possam de certa forma validá-lo, uma vez que a grande maioria das doenças que afetam o ser humano são genéticas. É do meu entender (e dos investigadores que realizaram este estudo) que essa hipótese é absurda. A OMS deixou de considerar a orientação sexual como uma doença em 1990. Para além disso, todas as nossas características são genéticas. E se não classificamos diferentes cores de olhos ou de cabelo como doença, porque haveríamos de fazê-lo com a orientação sexual? É uma característica como qualquer outra, terá certamente a sua componente genética e essa deve ser estudada, para que possamos compreendê-la como tentamos compreender todos os outros fenómenos do corpo humano.
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