Diz quem gosta e sabe ter, que nada dá mais prazer do que dar prazer. Isto faz-me lembrar um ditado indiano que apanhei antes dos créditos finais de um filme épico dos anos 90 – ainda se fizeram alguns – que rezava o seguinte: tudo aquilo que não é dado, perde-se. Sábias palavras. Anos mais tarde, noutro filme, registei algo parecido: tudo o que não é partilhado, esquece-se com facilidade. Dar é e será sempre uma das maiores dádivas que o ser humano pode desfrutar. Dar beijos e abraços, dar flores e chocolates, dar tempo e carinho, dar atenção e segurança, e claro está, dar prazer, porque quanto mais se dá, mais se tem.
O prazer é algo que deve ser levado muito a sério na vida, seja a trabalhar, a comer um gelado de caramelo com flor de sal, a ler um bom livro, a apanhar sol, a dar mergulhos à golfinho, a velejar ou a fazer voar o nosso parceiro/a. E tal como quase tudo na vida, quem for egoísta não sabe o que perde. Para a rapaziada que anda por aí nas apostas múltiplas, é bom lembrar que nenhuma mulher se interessa verdadeiramente por um tipo que seja egoísta na cama e fora dela, que não se concentre em nós no ringue e na vida, e que não basta ser uma grande bomba na hora H, o que mais conta é ter caráter durante todas as outras horas do dia. Uma coisa está ligada à outra: um tipo com pouco caráter, mesmo que seja uma bomba ao início, acabará por se revelar egoísta em algum momento, enquanto que um homem dedicado e que corta a direito na vida, com o tempo irá tornar-se um parceiro cada vez melhor.
O prazer é uma prática, um treino, uma aprendizagem. O prazer é uma descoberta: da pele, do cheiro, do corpo do espírito. O prazer é uma viagem. Demoramos meses, por vezes anos a descobrir tudo, e quando pensamos que já demos a volta ao mundo do outro, há sempre um pormenor por descobrir, um segredo a desvendar, aquele mistério invisível que de repente se desfaz perante os nossos olhos.
Quem não leva o prazer a sério, perde uma das fatias mais saborosas de existência. Quando me refiro a prazer, não estou apenas a falar do sexual, estou a referir-me ao sensorial, lattu sensu. Às vezes, basta um beijo no pescoço ou o passear da ponta dos dedos ao de leve pela curva da anca para nos acender as luzes todas. Não é preciso fazer muito, é preciso fazer bem. O romantismo chama-lhe paixão, o realismo chama-lhe delírio, a biologia chama-lhe química, a sabedoria popular chama-lhe destino e eu chamo-lhe sorte. Mas para se ter sorte, é preciso criar condições para atrair a boa sorte. Criar a boa sorte significa estar predisposto a esperar pelo momento em que a pessoa, que pode ser a certa, passa na nossa vida, e depois arriscar sem medo.
A química ou está lá ou não está, não se fabrica, não se compra nem se inventa. E ou corre nas veias logo ao primeiro beijo, ou então nada feito. Depois disso, é só dar asas ao prazer do outro para que ele possa voar, sempre mais alto, sempre mais forte, sempre mais seguro. Mas para tudo isto acontecer, tem de existir uma base sólida na vida, mesmo que não seja para a vida. A estabilidade é irmã do risco, arriscamos quando nos sentimos seguros. Nunca saltei de para-quedas, mas acredito que ninguém o faz se pensar que o para-quedas não vai abrir. É bom voar, mas é fundamental saber que se vai pode aterrar. Às vezes não sabemos nem como nem quando, mas nesse caso o melhor é confiar no piloto silencioso que guia nosso coração a que chamo instinto. O instinto é o mais forte de todos os sentidos. Se ele nos diz para avançar, é seguir sem medo. Se pelo contrário começa a apitar a luz do Red Alert, então o melhor é mandar evacuar todos os soldadinhos do campo e regressar à base.
Com ou sem negociações prévias, dar e receber prazer deve sempre ser feito com seriedade a honestidade. Nada de dar para depois exigir, nem dar e tirar a seguir, porque quem dá e tira ao inferno vai parar. Se é para dar, então que seja de coração aberto, com fé, com foco, com força e pé na tábua, como se diz no Brasil.