“Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, dizíamos nós, em tempos remotos, em que o único problema era a escassez de papos-secos. Não é caso para aplicar o exasperante “éramos felizes e não sabíamos”, mas talvez seja para um “passávamos fome e não sabíamos que ainda íamos passar frio”.
O preço das casas, em Portugal, subiu 38% nos dois últimos anos, enquanto o rendimento das famílias não foi além dos 9%. Parece que estamos numa daquelas competições de “Homem mais forte do mundo”, em que brutamontes empurram camiões. Só que no lugar do halterofilista temos um português escanzelado, e uma prestação do crédito à habitação mais pesada do que dois camiões TIR. E pur si muove! Por incrível que pareça, conseguimos empurrar o camião. Talvez seja do nosso treino de muitos anos a empurrar com a barriga, mas não deixa de ser impressionante a capacidade que os portugueses têm de resistir com a corda ao pescoço. Já a usamos como se fosse um acessório de moda. Na próxima edição dos Globos de Ouro: “Então, vem vestido por quem?” “O fato é do Dino Alves, a corda ao pescoço é da situação macroeconómica.”