Marina, Teresa, José Luís, Zita… bons professores que tive e aos quais não dei o devido valor, na altura. Mas tenho uma boa desculpa: era adolescente. Os “stores” falavam lá à frente, junto ao quadro, e eu estava cá atrás, a “distrair os colegas” (pelo menos era assim que era descrito nos recados que levava para casa). Curiosamente os sucessivos governos parecem tratar os docentes com igual desprezo, e nem sequer têm a atenuante de estarem mais interessados em preencher o questionário da revista Ragazza “Descobre Qual é o Namorado Ideal para o Teu Signo” do que na matéria. “Descongelamento da carreira dos professores” é um conceito que entra a 100 e sai a 200, tal como nos aconteceu com o modelo atómico de Thomson (Já não se lembra, não é? Lá está). Tanto num caso como noutro, era boa ideia ouvir o que os professores têm a dizer. Não posso viajar no tempo para avisar o meu “eu” de 14 anos de que a aula sobre a Guerra dos Cem Anos vai ser interessante, mas ainda vou a tempo de dizer ao ministro da Educação que esta guerra com os professores também está a durar eternidades. Por esta altura já sabemos que só há duas coisas certas na vida: a morte e as greves dos professores. Já fazem parte do calendário, como a interrupção lectiva da Páscoa e a época de exames. Os pais ficam, naturalmente, agastados sempre que vão levar os filhos à escola e descobrem que não há aulas, mas talvez devêssemos agastar-nos também com o facto de muitos professores não poderem levar os filhos à escola, porque moram em Trás-os-Montes e os miúdos têm aulas em Setúbal, o que, parecendo que não, fica fora de mão. Sei que a minha versão de 1999 ficaria desiludida se me apanhasse agora, em 2023, a defender os professores. Em minha defesa devo dizer: “Isto não é o que parece! Juro que não me transformei numa graxista. Isto já nem conta para a nota… Identifico-me com os professores agora porque são como nós éramos naquela época, no 7ºB: passam a vida a ir para a rua.” Aposto que dizem uns aos outros: “A porta da rua é serventia da casa”, como me apontava a professora de Matemática. E com razão: eu estava para ali a destabilizar, apenas para disfarçar o facto de não perceber nada de equações. Digamos que para mim era tão complicado resolver aqueles problemas como é para João Costa resolver os dos professores. Diz o ministro da Educação que esta greve é “desproporcional”. Será? Pergunto mesmo a sério, porque também não estive atenta nas aulas sobre proporções… Percebo que se questione a forma de protesto, nomeadamente a greve ao primeiro tempo (também já fiz dessas, mas o nome que lhe dava na altura era “desculpe, adormeci”), mas talvez a pergunta a fazer seja outra: não é revelador da precariedade dos professores que tenham de fazer uma greve de apenas uma hora, não podendo dar-se ao luxo de prescindir do salário de um dia inteiro? Fica para TPC, tragam a resposta na próxima aula.
Mais notas para os professores. Crónica de Joana Marques
Identifico-me com os professores agora porque são como nós éramos naquela época, no 7ºB: passam a vida a ir para a rua
Mais na Visão
Parceria TIN/Público
A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites