Uma das maiores pobrezas de Portugal é a nossa riqueza futebolística. Temos tantas jóias da coroa no desporto-rei que tendemos a votar ao esquecimento, injustamente, todas as outras modalidades. Voltou a acontecer nos últimos dias, com grandes parangonas acerca da marca dos 700 golos, atingida por CR7, e pequenas notas de rodapé sobre o impressionante registo de 140 detenções, alcançado por Vítor Macedo.
Sendo que Cristiano Ronaldo tem a equipa a trabalhar para ele, enquanto que o Rei dos Catalisadores, ao que tudo indica, actua sozinho. É ele o único responsável pelas nove detenções consecutivas, em meia dúzia de meses. Um feito que ficará com certeza marcado na história mundial da subtracção de catalisadores. Infelizmente, por cá, damos mais importância a um ex-guarda-redes espanhol que saiu do armário, do que a um pobre mecânico português que só quer entrar na prisão. É triste. Mais triste ainda do que foi, para a comunidade gay, perceber que Casillas, afinal, estava a brincar. Farto de não ser considerado pelo seu incrível desempenho, o Rei dos Catalisadores tinha duas hipóteses: emigrar para um país em que a arte de extrair peças de viaturas seja mais apreciada, ou mudar de ramo. Optou pela segunda, atropelando um ciclista na Estrada da Circunvalação. Para ter a certeza de que ficaria efectivamente detido, e por mais de cinco minutos, fê-lo ao volante de um carro roubado, e em contramão. Foi preciso fazer este hat-trick para finalmente ter o tratamento que merecia. Enquanto que grandes astros, como Ronaldo, sonham com o Panteão, Vítor desejava apenas pernoitar num estabelecimento prisional, e finalmente as portas de Custóias abriram-se (e fecharam-se, logo de seguida) para o receber. É caso para dizer que tudo está bem quando acaba bem. O mesmo não pode dizer Iker Casillas, que depois de uma piada falhada (quem nunca?) resolveu usar a mais gasta desculpa de sempre. “A minha conta foi hackeada” é o novo “querida, isto não é o que parece”. Casillas quis convencer-nos de que alguém se deu ao trabalho de lhe roubar o acesso ao Twitter para escrever “espero que me respeitem: sou gay”. Seria o hacker mais incompetente da história da pirataria: atacava as contas de um multimilionário para fazer uma piada digna do sétimo ano. Eu até respeitava o Casillas, hetero ou gay, mas não esperava que ele recorresse à mesma desculpa a que recorri quando, sem querer, reencaminhei um vídeo indecente para os meus pais: “Desculpem, foi vírus!.” Iker que ponha os olhos no Rei dos Catalisadores, e assuma os seus erros. Que eu saiba, Vítor Macedo, quando apanhado debaixo de um automóvel, nunca disse: “Foi um bug no computador de bordo, estava só aqui a actualizar o software.”