Estudos comprovam que 90% das pessoas que dizem estar a ser vítimas de uma cabala, não estão a ser vítimas de uma cabala. Isto não significa que Mário Ferreira, proprietário da empresa Douro Azul e principal acionista da Media Capital, não faça parte dos outros 10% e esteja a ser “vítima de um ataque sem precedentes”, como afirma o próprio. Tendo a concordar. Vamos a factos: o navio Atlântida foi comprado em 2014 pela Mystic Cruises (detida por Mário Ferreira), aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, por 8,75 milhões de euros, e vendido em 2015 pelo dobro do valor, aos noruegueses da Hurtigruten. Até ver, tudo certo. Português que é português tenta sempre aldrabar cidadãos da zona rica de Europa, seja para vender um bitoque com ovo a cavalo, um T1+1 no Chiado ou uma embarcação. A venda do navio foi, ao que parece, feita por uma firma de Mário Ferreira sediada numa offshore em Malta, apurando-se que o empresário acabou por comprar o barco a si próprio. Parece ser esse o grande escândalo, porque pelo meio fica uma dívida de meia dúzia de milhões ao Fisco. Digamos que aconteceu ao dinheiro dos impostos decorrentes da venda do navio Atlântida tal e qual o que sucedeu à ilha com o mesmo nome: desapareceu. Mas concentremo-nos no essencial. O que poderia este pobre homem fazer?! Provavelmente, a mulher andava a pressioná-lo para vender o barco. E já sabemos como são as mulheres quando começam a implicar com tralhas que os maridos compraram. Falo com conhecimento de causa: já vivo com uma mulher há 36 anos, e sei que todos os dias penso no raio da bicicleta de BTT que só saiu duas vezes da garagem. Imagino se fosse um navio daquela envergadura. Para evitar problemas em casa, Mário Ferreira foi ao OLX e tentou a sua sorte: “Vendo ferry, como novo. Não foi usado pelos açorianos que o encomendaram, nem comprado por Hugo Chávez, que chegou a falar publicamente desse negócio. Entrego em mão na zona riberinha.” Perante um total de zero interessados (tirando uma senhora que perguntou se aceitava trocar o navio por um candeeiro do IKEA em excelente estado) teve de vender a embarcação à única pessoa em Portugal com capacidade financeira para a adquirir: ele mesmo! Não percebo a celeuma. Acho até que merece um aplauso, pela visão que demonstra ter. Resolveu dois problemas de uma vez só: por um lado, não ficou a perder dinheiro, por outro, sempre que a esposa lhe perguntar se já vendeu aquele mono, pode responder que sim, sem sentir remorsos por estar a mentir.
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