Álvaro Covões, ilustre promotor de eventos, responsável (entre outras coisas) pelo festival NOS Alive, apresentou uma proposta revolucionária para Portugal: acabar com os turistas de mochila. Podemos continuar a tentar viver do turismo, sim senhora, mas devemos ter mais critério. No fundo, fazer como as discotecas que querem ter um público mais selecto, e contratar um porteiro para guardar a fronteira. Pode avaliar os outfits e dizer a quem traz uma Montecampo às costas que o consumo mínimo aqui no burgo é de 3 000 euros. Covões deseja ao País o mesmo que os reis dos filmes Disney desejam às suas filhas casadoiras: que escolham um príncipe rico, em vez de se apaixonarem por pobretanas. Percebo que nos interesse piscar o olho a poderosos xeiques, mas não podemos evitar que os turistas de pé descalço (ou pé de chanata) se apaixonem por nós, até porque somos um pedaço de mau caminho, à beira-mar plantado. Vamos dar-lhes uma tampa só porque não têm Mastercard? Que é feito do romantismo português? Dito isto, admito que também não sou fã de turistas de mochila. Vejo-os como os gatos: têm todo o direito a existir, mas prefiro que não estejam ao pé de mim, porque sou alérgica. E não é por gastarem apenas 20 euros em cervejas e atum, durante a estada em Portugal (os turistas, não os gatos, embora sejam regimes alimentares parecidos), que me fazem comichão. O que me causa urticária é a sua superioridade moral. São viajantes que conseguem dar a volta ao mundo apenas com uma sacola, enquanto nós para irmos passar o fim-de-semana a Madrid levamos dois trolleys, uma pasta para o computador e uma bolsa a tiracolo. Dormem numa esteira de yoga e acordam como novos, enquanto nós se não tivermos a sorte de calhar num hotel com uma almofada da espessura ideal ficamos com um torcicolo. É a leveza deles que me enerva. E nem me refiro ao peso da trouxa, que muitas vezes vem menos carregada do que o nosso nécessaire. É a leveza de quem não fez planos e por isso não teme que falhem. Não perderam tempo a ler críticas de desconhecidos no Booking sobre a variedade do pequeno-almoço, não demoraram hora e meia a fazer a mala, não trouxeram cuecas em número igual ou superior à quantidade de dias de férias, não usam saco para a roupa suja porque vão transformá-la constantemente em roupa limpa, improvisando um estendal na casa de banho… Pior: é gente que, depois disto, vai voltar a casa revigorada, a dizer que adorou a experiência, enquanto nós, que nos mudámos de armas e bagagens para um resort na praia, voltamos exaustos, a reclamar férias das férias. Resta-me desejar que transportem a mochila num só ombro e fiquem com escoliose. Só para não se armarem em bons.
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