A influencer Catarina Gouveia anunciou a boa-nova: “Às 2h, nasceu a nossa filha, de parto natural.” Ainda bem que o parto foi natural, já que tudo o resto foi altamente artificial. Esta legenda acompanhava uma fotografia em que Catarina Gouveia surge numa cama de hospital, cuja alvura dos lençóis é digna do slogan do Tide, com as pernas reluzentes à anúncio da Veet, cabelo sedoso e impecavelmente penteado, como numa campanha da L’Oréal, quarto despojado, como se fizesse parte do mostruário do IKEA, e marido estrategicamente colocado de esguelha como se fosse um daqueles figurantes que recebem menos porque só aparecem de costas. Ah, e lá no meio está um bebé, num product placement bastante bem conseguido, como quando nas novelas os actores pegam casualmente numa embalagem de amaciador Fructis antes de entrarem para o duche. Tudo normal, portanto, na vida de uma “influenciadora digital”. Estranho apenas a estranheza com que muitos reagiram a esta fotografia. Uma pessoa que aparece sempre linda, em cenários imaculados, saboreando sumos com spirulina e panquecas de espelta, havia de fotografar-se envolta naqueles lençóis azul-bebé com logótipo do Centro Hospitalar de Lisboa, ao lado de um tabuleiro com restos de sopa de hortaliças, sem sal, e maçã assada sem sabor? Isso sim, seria surpreendente. Achei a fotografia caricata pela sua desadequação, como acho engraçado se vir alguém de vestido de gala no Minipreço. Vê-la estendida naquela cama articulada, à espera da enfermeira, como quem está nas Seychelles à espera de um mojito, deu-me vontade de rir. Pelos vistos a outras pessoas deu vontade de arrancar cabelos (espero que os seus, e não os da Cate, que estão tão bem): as descabeladas acusam a influencer de passar uma ideia pouco realista do que é um parto. Mas desde quando é que as redes sociais servem para mostrar a realidade?
Se Catarina Gouveia quisesse fazer isso tinha ido para jornalismo. No Instagram não interessam muito os factos. É mais os fatos. Entre isto e as publicações do tipo “apresento-vos o meu bebé, acabado de sair, ainda cheio de gosma”, venha o diabo e escolha. Sei que ao dizer isto corro o risco de ser tão atacada como a Catarina, porque, no que toca à maternidade, é-se preso por ter cão e por não ter, por mostrar o cão ou não mostrar, por amamentar o cão até aos 2 anos ou por dar fórmula ao cão ao fim de uma semana, por adormecer o cão ao colo ou no berço (e vou parar com esta metáfora, antes que surja o exemplo de dar banho ao cão). Não aprecio esta versão romantizada do pós-parto, nem a versão crua, que mostra miudezas que dispenso ver. Aprecio a boa e velha mensagem para os amigos, a dizer “correu tudo bem, nasceu às 11h com 3 kg”. E mesmo essa consegue enervar-me, quando simula que o remetente é o recém-nascido: “A minha mamã foi uma guerreira.” Cala-te e dorme, miúdo. Ah, e diz à tua mãe para largar o telemóvel e descansar um bocado.