O uso de máscara deixou de ser obrigatório. Foi para isto que se fez o 25 de Abril… de 2022, para nos libertarmos de um pedaço de poliéster que nos cobria metade da cara. O de 1974 foi para nos vermos livres de uma mordaça ligeiramente mais incómoda, embora tenha havido muita gente, nos últimos anos, a tentar forçar a equivalência entre um regime ditatorial a sério e a famosa “ditadura sanitária”. A única ditadura sanitária que conheço é aquela a que fomos sujeitos na escola, quando tínhamos de pôr o dedo no ar a pedir autorização para ir à casa de banho a meio da aula, e a professora de Inglês, essa déspota, não deixava (talvez por já termos recorrido a esse expediente dez minutos antes). Éramos autênticos presos políticos, enquanto os revolucionários do 5ºC, que se tinham baldado ao último tempo, desfilavam no recreio, como quem desce a Avenida da Liberdade. Mas voltemos ao presente, e à normalidade. O tal “velho normal” que parecia uma miragem parece estar a chegar. Sem testes, sem certificados, sem máscaras. A espera foi tão longa que de repente isto do “normal” parece ser uma coisa boa. É o problema das grandes crises: transformam as coisas banais em extraordinárias. Há quem diga que é uma forma excelente de olhar o mundo, isto de dar valor às pequenas coisas. A mim parece-me só baixar a fasquia da exigência. Antigamente um dia extraordinário era qualquer coisa como andar de iate no Mónaco enquanto se degustava magnífico champanhe, agora é entrar num centro comercial sem ter a cara tapada (se for assaltante de ourivesarias, continua tudo na mesma). Esta despedida das máscaras é, aparentemente, uma boa notícia para o comum dos mortais, mas um duro revés para os imortais, que chamavam “resfriado” à Covid-19 e “implante 5G” às vacinas. Gente que fez da sua bandeira a não utilização de máscara, de repente, fica de mãos a abanar, sem nada para agitar no ar em jeito de súplica “olhem para mim, que sou rebelde, e li artigos na internet!”. Não cumprir as normas da DGS era um modo de vida que agora, tristemente, se extingue. Os negacionistas são como aquele excêntrico que vai às galas vestido de amarelo fluorescente, para garantir que sobressai entre uma multidão de fato escuro. Não pode haver dia mais triste do que aquele em que o espalhafatoso chega à passadeira vermelha e constata que toda a gente vestiu cores berrantes. Para quem fez gala em fugir à regra, o fim da regra é um dia triste. Como vão agora os antimáscara conseguir evidenciar-se, distinguir-se dos demais? Como vão mostrar que não fazem parte da “carneirada” que tanto criticaram, se agora esse rebanho lhes copiou a moda e anda por aí sem máscara? Se calhar vão ter de recorrer a um método ancestral, usado há séculos pelos malucos, e que também passa por deixar pele a descoberto: andarem nus na rua.
