De acordo com o Telegraph, o teatro The Globe, em Londres, entrega aos espectadores da peça Romeu e Julieta uma página com avisos tais como: “No final, Julieta mata-se. Isto não é real.” Ou: “Perto do final da peça, quando Romeu bebe veneno, o actor finge vomitar e ter convulsões. Isto não é real e ele não está ferido.” Ou ainda: “Há lutas no palco. A violência não é real e não deve ser copiada. Há sangue e vómito nesta produção. Isto não é real.” A razão de ser dos avisos é, segundo os responsáveis pelo teatro, a preocupação com “os problemas de saúde mental que os jovens enfrentam hoje”. Pessoalmente, confesso que estou mais preocupado com a saúde mental das pessoas que escreveram os avisos. São directores de um teatro cuja expectativa é receber espectadores que não sabem o que um teatro é. Estão convencidos de que as pessoas vão comprar um bilhete para ir ao teatro, no dia marcado vão ocupar o seu lugar no teatro, e depois vão assistir a uma peça de teatro – mas nunca ouviram falar em teatro. Ora, quem vai ao teatro e não sabe que o que se passa no palco é ficção não é doente mental. É inocente, se tiver menos de 4 anos, e é estúpido, se for maior de 4. Se esses espectadores existem, o teatro devia vender bilhetes para ver a peça e bilhetes mais caros para ver os espectadores a verem a peça. Eu estaria comprador. Quem precisa de ser avisado de que os actores não estão mesmo a lutar, ou a morrer, é um tipo muito especial de pessoa. Trata-se de alguém que se senta numa plateia esperando ver a vida real a desenrolar-se à sua frente. Por um acaso feliz, uns tais Capuletos e Montéquios estão a viver a sua vida em cima de um estrado. Duzentas ou trezentas pessoas têm a sorte de assistir. Deve ser por isso que os bilhetes são tão caros. E, de facto, não há dúvida de que é perturbador assistir à morte verdadeira de uma pessoa. No entanto, o espectador que imagina estar a ver Romeu a beber veneno real não é apenas estúpido – juridicamente, também é um homicida por negligência. Porque, naquele ponto da peça, o espectador que julga estar a assistir à vida real sabe que, ao contrário daquilo em que Romeu acredita, Julieta não está mesmo morta. Qualquer tribunal concordará que o espectador tem o dever de se levantar e dizer: “Ei, Romeu! Não bebas isso, pá. O mensageiro que o Frei Lourenço enviou para te dizer que ela ia beber uma poção especial para parecer morta não chegou a tempo de te avisar. Ufa! Podia ter acontecido aqui uma tragédia, se não fosse eu. Estes 300 palermas que estão aqui a ver isto comigo não iam dizer nada. Incrível.” Ser um idiota é o menor dos defeitos deste espectador. Só com avisos destes não vamos lá.
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