De acordo com um estudo da Gulbenkian, divulgado nesta semana pelo Expresso, só 3,7 em cada 10 portugueses rejeitam uma forma não-democrática de governação. O mesmo estudo indica que 9 em cada 10 inquiridos consideram que um sistema político democrático é uma maneira boa ou até muito boa de governar o País. Ou seja: somos um povo que aprecia muito a democracia mas também não desgosta de uma boa ditadura. Há várias formas de ler os resultados discrepantes do estudo. Uma é analisá-lo à luz de um outro estudo, publicado no mês passado, segundo o qual Portugal é dos países da OCDE em que se consome mais álcool. Quando 90% das pessoas preferem uma forma de governar e quase 70% manifestam apreço por outra, o mais provável é que 100% dos inquiridos estejam ligeiramente embriagados.
Outra explicação é a avançada pelos autores do estudo: os mesmos inquiridos que não rejeitam formas não-democráticas de governo dizem preferir sistemas democráticos porque têm uma definição imperfeita de democracia. Igualmente plausível, no entanto, é que os inquiridos tenham uma definição imperfeita de formas não-democráticas de governo. É, aliás, provável que quem não sabe bem o que a democracia é desconheça igualmente o que os sistemas não-democráticos são. Sobretudo porque a maior parte dos inquiridos, em princípio, viveu a totalidade ou a maior parte da vida em democracia. Se eles têm uma definição imperfeita do regime em que vivem, imagine-se a ideia que fazem de um regime em que nunca viveram ou no qual já não se lembram de ter vivido.