É difícil não dar razão às pessoas que desconfiam dos estrangeiros que vêm para o nosso país. Os migrantes que estão no Sudoeste Alentejano a trabalhar na apanha da fruta e a viver em condições sub-humanas, explorados por máfias que se dedicam ao tráfico de pessoas, são muito suspeitos. Como sabemos, estamos a falar de nababos pimpões que chegam a Portugal em barcos insufláveis com os seus sofisticados iPads para viverem à custa do dinheiro dos nossos impostos e passarem à nossa frente nas filas para o médico. Mas, provavelmente para disfarçar, enquanto amealham vultuosos subsídios, vivem às dezenas em habitações precárias e fazem trabalhos pesados a troco de quase nada. Sabem muito. Cumprindo o sonho de vir para o nosso país em busca de fama fácil, esta semana até apareceram nas notícias, quando tantos portugueses passam uma vida inteira sem serem alvo do interesse dos telejornais.
O presidente do Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Acácio Pereira, teve o topete de acusar o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, de saber desde 2018 que estas pessoas vivem praticamente em estado de escravidão. Ora, como se viu no episódio do cidadão ucraniano Ihor Homeniúk, Cabrita é o primeiro a lamentar e o primeiro a reagir. Lamenta, reage, e depois aguarda – evidenciando uma presença de espírito admirável. Evita resolver o problema, certamente com grande sacrifício pessoal, para ver até onde chega a perfídia da opinião pública. Nesse caso, levou nove meses a indemnizar a viúva, precisamente para fazer ver aos comentadores e ao resto da comunidade o tempo que medeia entre o momento em que ele detecta e se rala com o problema e a altura em que os palermas começam a indignar-se. Tendo em conta que desta vez passaram três anos entre a tomada de conhecimento do ministro e a indignação pública, nem quero imaginar o tamanho do raspanete que vamos todos receber. Preparem-se para ficar com as orelhas a arder.