Inspiro, expiro, inspiro, expiro. Não consigo adormecer. Estou deitada na cama, voltada para cima, os olhos fechados, as mãos sobre a barriga, conto, Um, dois, três… Por mais que tente segurar-me ao carril dos números, tenho a certeza de que antes de chegar a cinquenta darei por mim noutro sítio, distante da contagem: um ato de magia ou um rapto perfeito?, como se pode explicar que não consiga levar uma tarefa tão simples até ao seu termo? Contar. Sei que sei contar. Contar números ou histórias? Ao confundir uma coisa com a outra, talvez a língua tente obrigar as histórias a uma consequência, ou pelo menos a uma consecutividade, de que a vida não se faz, quem conta um conto aumenta um ponto, talvez revele que afinal os números não são confiáveis, quem números contar sabe deus onde vai parar. Claro que não é simples contar. Lá estou eu parada a meio de uma dezena qualquer. Em que número é que eu ia? Recomeçar, recomeçar sempre, fingindo crer que desta vez é que é.
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