Entro no carro, arranco como se estivesse a fugir. Não levo nada comigo, mas tenho a certeza de que se me abeirasse de um balcão de embarque do aeroporto, de um terminal de comboios ou de autocarros de longo curso, ficaria retida por excesso de bagagem: levo-me. Não é possível seguir viagem com este peso que desabou sobre mim. Quando fico fechada por um tal céu de tempestade, as pernas inquietas e as crises de pânico insistem em querer levar-me daqui. Contudo, não tenho como partir. Entro no carro, arranco apressada. Sozinha.
É o carro quem me conduz, se bem que eu já saiba para onde me leva. Ao mar do Guincho. Aí, mesmo que aquietados, ar e mar nunca enganam, a paz é só um balanço sonso entre o arrepio das guerras. Estacionada de frente para o horizonte, continuo ao volante. Pouco tempo depois, a porta do outro lado abre-se. Ele senta-se no lugar do morto.