Um T deitado? Rodando a fotografia, noventa graus no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, parece uma cruz decapitada.
Não é uma coisa nem outra. É um cais. Um pedacinho da Baía de H. Eu sei que é a Baía de H., mas na imagem nada há que a identifique, podia ser outro sítio qualquer. Também não há céu. E a terra é uma estreita faixa do lado esquerdo onde a cruz que não é cruz se planta. Pedras, pedregulhos, descaem para a água. A maré terá começado a baixar, mostrando pedras mais negras. Devem estar molhadas ou cobertas de limos. A quase ausência de cor cria a ideia de que a fotografia é a preto e branco, a ideia de um mundo sombrio organizado como uma escala de cinzas. Só três apontamentos de cor. No canto superior esquerdo, em tons pastel, o verde de quatro arbustos enfileirados, ladeados pelo amarelo da pouca areia que existe entre os arbustos e as pedras. E depois, por fim, dentro de água, doloroso, aquele breve azul, um azul impossível, como uma pincelada que um pintor desastrado tivesse querido deixar ficar.