As férias grandes nunca mais acabavam. A Violeta e a Cristi matavam o tédio, aproveitando o jogo da macaca que alguém deixara desenhado no asfalto. O corpo da Cristi, esguio e gracioso, desirmanado do da Violeta, que, compacto e forte, parecia pesar cada salto. Eram corpos em crescimento, tanto mostravam as crianças que tinham sido, como afiançavam as raparigas que começavam a ser. Corpos, dolorosa, femininamente, em mutação.
Os rapazes vieram da Avenida montados nas suas bicicletas. Surgiram do lado onde o amolador afiava as facas. Velozes na estagnada manhã de verão. Ultrapassaram as donas de casa em compras de última hora, os mangas de alpaca que arejavam o bafio dos escritórios, as floristas que saldavam o resto das flores, os magalas perdidos da guerra colonial, os arqueados engraxadores de sapatos, os bancários de fato puído. Pararam junto à empena do prédio em construção e deixaram-se ficar na galhofa. O Victor e outro deles – seis, eles eram seis – olharam para as raparigas, ao acenderem beatas apanhadas do chão. A Violeta e a Cristi gostavam que os rapazes olhassem para elas, gostavam da impressão que isso lhes causava no fundo da barriga, dos tremeliques das pernas. Os rapazes deviam saber que assim era. A mãe da Cristi assomou à janela, chamando a filha para o almoço.