Trim-trim-trim. O telefone estremeceu a noite. Insistentemente. Trim-trim–trim. Vindo das misteriosas entranhas metálicas, que a sisuda baquelite preta cobria, o irritante toque não parou até a minha mãe se levantar e atender, Está sim?
No final da década de setenta, em casa dos meus pais, as noites eram para dormir de uma ponta a outra, mesmo se o meu pai, angustiado por não saber como pagar as prestações do empréstimo do IARN, passasse muitas delas de um lado para o outro, a fumar na escuridão da varanda, o cigarro, um frouxo farol laranja, o meu pai, um destroçado rochedo.