A água do mar estava fria, mas não o suficiente para me impedir de mergulhar. Não é bem um mergulho, é mais um afundar-me, um, dois, três, um chamamento que me acompanha desde que me conheço, sentar-me com as pernas traçadas no fundo do mar, ser por escassos segundos parte do enorme e misterioso gigante líquido, deixar-me estar como se regressasse a casa, abrir os olhos para as algas, rochas, pós de areia, serzinhos aquáticos, acelerar o coração, ir ficando sem fôlego até me levantar daquele chão que tão fracamente me agarra, qualquer pequeno gesto me empurra para cima, para a fronteira de luz, emergir com os ossos enregelados, os ouvidos doridos, estar de novo a salvo sob o céu imaculado do meu sul, vitoriosa e mais viva.
Ao encaminhar-me para o chapéu de sol às riscas azuis, as gaivotas gritavam como se fossem desatar o mundo, as arribas iluminavam-se a pique, algumas crianças corriam num jogo por elas inventado, enrolei-me na toalha aquecida pelo sol e pensei, A felicidade deve ser isto.