Deus Pai, criador do céu e da terra, Pai de todas as criaturas, olhai por nós nesta altura de provação. Ó Glorioso, tomai conta destes teus filhos durante este longo e duro calvário. Eles são muitos, são legiões. Desdobram-se e multiplicam-se, proliferam por todos os cantos deste planeta que tão amorosamente criaste, ó quem Teu nome nem ousamos mencionar, ó Tu sem rosto, em cujas Santas e Gloriosas Mãos não somos senão humilde e indigno barro, Pai do Céu da Terra, Pai de todas as criaturas. Eles medram em qualquer canto de chão, em qualquer clima. Movimentam-se a uma velocidade medonha. Em tudo o quanto tocam infundem sua vileza impiedosa, sua peçonha sem perdão. Olhai por estes teus humildes servos, cuidai de nós, ó Providência, emprenhai nossas pobres almas missionárias com esse Teu Santo Espírito de luz e amor. Somos Teus escravos, assim seja feita a Tua vontade. Eles não sabem senão aumentar. A palavra de ordem, neste momento, é “contenção” e mesmo assim eles não sabem senão aumentar. Eles são 7 776 012 822, e a cada segundo o número não para de aumentar. Nem assim. Nem perante o jugo cruel a que Tu, ó Inclemência, os submetes presentemente através destes Teus indignos servos. Nós bem tentamos mas eles são manhosos, são ardilosos, são répteis escorregadios que se escondem. Isolam-se, esfregam as mãos em géis nauseabundos, tomam vitamina C efervescente, experimentam vacinas contra a tuberculose e a malária, fazem dietas alcalinas, aspergem gases tóxicos pelas ruas e transportes públicos, trocam de luvas à mesma velocidade com que dão à luz, fogem dos mais velhos, enfiam-se em casa, copulam, fabricam outros que tais. Fazem vídeos inspiracionais e colam desenhos de arco-íris nas janelas. Cantam das varandas. Não está a ser fácil contê-los. Voluntariamente nos entregamos para sofrer a morte. Provavelmente já cá não estaremos em setembro. Talvez nos aguentemos mais um ano e meio. Talvez dois. Vá lá que conseguimos desferir uma flechada bem dada no calcanhar de Aquiles da sua economia global, daí talvez se possam colher alguns frutos desta nossa missão divina. Mas não vai ser fácil. Eles são um vírus altamente letal. Ó Pai de todas as criaturas, não nos abandones nesta dura missão de restaurar um pouco de equilíbrio à tua Divina Criação.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
Amén.
(Crónica publicada na VISÃO 1414 de 9 de abril)