Nunca irei a uma manifestação contra a guerra; se fizerem uma pela paz, chamem–me”, disse a Madre Teresa de Calcutá. Este é o meu mantra, o meu estribilho, o meu refrão, a melodia que me vem à cabeça de cada vez que eu vou para escrever uma sílaba que seja numa qualquer plataforma a que se usou chamar “redes sociais”. Eu sou um fiel crente na utilidade deste tipo de possibilidade. As redes sociais digitais são inevitáveis, são para onde tende todo o esforço humano desde que o primeiro hominídeo grunhiu à saída da sua gruta. São impossivelmente inevitáveis, muito possivelmente úteis e benéficas. Tendo claramente a pensar que sim. Toda a liberdade, todo o progresso têm dado provas irrefutáveis da sua contribuição indelével para o Bem deste mundo. Como todos os princípios, arrancou (está a arrancar) torto, cheio de falsas partidas, prenhe de ruindade. Foi assim com a Revolução Industrial, todo o carvão, todo o trabalho infantil, as grandes depressões. Hoje em dia, esquecemo-nos de ser gratos de cada vez que, num mínimo esforço de dedo indicador, pressionamos um interruptor e o milagre da luz se dá, assim, em toda a sua instantânea e providente Graça. Carregamos num botãozinho e todas as excrescências de que somos também feitos passam a fazer automaticamente parte do passado. Nem nos passa pela cabeça tudo o que passámos para que as nossas dejeções possam viajar em segurança para longe da nossa vista, do nosso olfato. E agora é com as redes sociais, somos contra. Vociferamos em coro, ladramos a desfavor. São o demónio, é obra do coisa-má, já vemos ao longe o arcanjo Miguel a descender dos céus para encaminhar as almas derradeiras. Pois eu acho que estamos só no princípio. Eu imponho-me regras duríssimas. No dia em que as infringir, hei de punir-me com a exclusão total destas ferramentas cujo advento neste mundo eu saúdo. Eis a Minha Regra Número 1, inspirada no sábio dizer de Madre Teresa: não ser contra coisas, ser a favor de coisas. É uma regra. Dura de cumprir, mas a meu ver benéfica. Para mim, é uma regra que não admite sequer alternativa. Nada deu mais força ao Especial de Natal da Porta dos Fundos do que todas as iniciativas que pretendiam o seu contrário. Nada foi tão obviamente mais favorável à divulgação do alvo a abater do que todas as vozes concertadamente contra. Ser contra dá força. Ser a favor, também. Eu sou a favor das coisas que me merecem uma atitude positiva. Todas as outras, as muitas outras, as demasiadas outras, merecem o meu silêncio, a minha negligência e mudez total. Que não seja por mim, através de mim, através da minha insignificante contribuição, que o seu lastro há de fermentar. Tenho uma mística, não comprovada, porém, intimamente e intuitivamente sentida fé de que ruindade chama ruindade, veneno convoca veneno, impropério convida impropério. O meu cantinho na rede não é muito frequentado, mas é agradável. Eu “des-sigo” amigos de infância que são contra coisas, por mais meritórias as intenções. Às minhas redes assomam diariamente vistosas saladas de abacate, árvores acabadas de plantar, bebés risonhos, aforismos inspiracionais em letras garridas, tudo coisas que, tal como as coisas da vileza, gostam da companhia umas das outras. Sempre que me desancam, eu ponho um like, um polegar para cima, um coraçãozinho, ofereço aquele digital e lenitivo afago. São as regras. As minhas regras. Mais (menos) que isso não posso fazer.
(Crónica publicada na VISÃO 1402 de 16 de janeiro)