Crónicas
Correspondência #1: Com que direito?
Portávamo--nos como os que não têm tento na língua. E se os nossos pais demoraram a revelar--nos, a mim e à minha irmã, alguns factos da história familiar, isso deveu-se apenas a não ter calhado

Sólidos beneficiários líquidos. Crónica de Joana Marques
Se a vida te dá um conflito armado que pode desencadear a terceira guerra mundial, faz uma limonada na mesma e vai dar um mergulho à praia, que tão cedo a guerra não chega cá

Remate com efeito surpresa. Crónica de Joana Marques
Estes anti-heróis são magnânimos e, na hora da vitória, não nos esfregam na cara tudo o que dissemos sobre eles. Não guardam rancor, nós é que temos de guardar a viola no saco, e ir implicar com outro

Afinal, desmonta-se
Apesar dos muitos anos que nos separavam, talvez tenha encontrado semelhanças entre nós, talvez tenha intuído que éramos feitas da mesma massa

Castro Laboreiro é flawless. Crónica de Joana Marques
Imaginem que o clássico anúncio de Fairy resolvia opor Castro Laboreiro ao Soajo, em vez de Villarriba a Villabajo. Quão ofendida ficaria a vila derrotada naquela competição de lavar pratos?

Desmascarados. Crónica de Joana Marques
Antigamente um dia extraordinário era qualquer coisa como andar de iate no Mónaco enquanto se degustava magnífico champanhe, agora é entrar num centro comercial sem ter a cara tapada

Querida Dóris
Sonhei com o anjinho azul da casa dos Anjos, um anjinho gordo desenhado num azulejo que o Luís e eu pendurámos junto à porta de entrada

Privação de liberdade condicional. Crónica de Joana Marques
A prisão é como a casa dos nossos pais: há uma fase em que faz todo o sentido vivermos lá, mas depois de sairmos é absurdo regressar

Não é carne nem é peixe. Crónica de Joana Marques
Cristina tinha um olho no burro, agora tem outro no cigano. Não são realidades assim tão distantes, PAN e Chega têm muitos interesses em comum

A de apaga
Escreve sobre o quê? Hesito. Perguntam-me isto desde sempre, Escrevo sobre o quê? Receio que quando souber a resposta certa nada mais tenha para escrever

Portugueses de primeira divisão. Crónica de Joana Marques
Se me falam de portugueses de primeira e de segunda, assumo que se referem à divisão em que jogam, e aí concordo que é mais avisado convocar atletas dos principais escalões

O limite da alopecia. Crónica de Joana Marques
Estranhos tempos, estes, em que as regras de conduta são mais rigorosas num polidesportivo na Lourinhã do que no Dolby Theatre

A céu aberto
Quando nos mergulham tempo demais nas mesmas palavras, as nossas apodrecem, as nossas palavras passam a ser as outras tornamo-nos altifalantes acéfalos, perros

Tio Vânia. Crónica de Joana Marques
Mas como é que o chef do Tio Vânia vai descobrir a receita do molho? Pesquisar na internet é escusado: lá, nem sequer encontra notícias sobre a guerra, quanto mais um segredo tão bem guardado como este

O homofóbico Goucha. Crónica de Joana Marques
A comunidade LGBT tem feito um trabalho notável para evidenciar que não há nada de errado em se ser homossexual. Porque há-de agora impor uma forma certa de se ser homossexual?

Guerra na Ucrânia: Seria eu deixada para trás?
A falta de acessibilidade aos abrigos e à ajuda humanitária pode tornar terrível a vida de 2,7 milhões de pessoas com deficiência na Ucrânia e eu imaginei-me a mais de 4 mil km daqui e a ser uma daquelas pessoas. Calcei as suas rodas e inevitavelmente pensei: e se eu estivesse lá? Seria eu uma deixada para trás? A crónica de Mafalda Ribeiro, autora, consultora de inclusão para a deficiência e palestrante

Os nossos rostos
A morte, cansada de andar sonsa pelas enfermarias dos hospitais, mais de dois anos a apoucar anónima secreta aborrecidamente o valor de cada vida, deseja a guerra

Perder a graça, ganhar a guerra
Zelensky torna-se assim o primeiro humorista unânime, na História da Humanidade. Estranhamente, não conseguiu essa aclamação através de uma piada, mas falando muito a sério

Educandos do Twitter. Crónica de Joana Marques
Twitter e Instagram insistem em comportar-se como se fossem nossos pais, “não podes ver mamilos femininos!”, e como se tivéssemos 5 anos, “o Bob Esponja e o Ventura são muito violentos!”

Foto #6: Infância a grão grosso
Sempre que olhava para esta fotografia, a minha mãe lamentava que eu tivesse perdido o meu fio numa ida à Baixa. Agora, já não se lembra disso

Sinais interiores de pobreza. Crónica de Joana Marques
Consigo falar desapaixonadamente de Bruno Paixão porque é um árbitro que não me diz muito. É tipo Nirvana: sei o que é, mas tocou mais a geração do meu irmão
