Sou do tempo que já me permite dizer frases do tipo “sou do tempo”.
Ora, na época em que ainda frequentava o cartão-jovem, conheci o culto dos “jovens, pá”. O culto dos “jovens, pá”, era a maneira que o País e, em particular, as empresas, tinham para valorizar tudo o que era novo, fresco, divertido e, invariavelmente, “giro”. E dispensar o que cheirava a mofo.
Nos jornais, este culto nacional teve méritos e desastres, sobretudo os últimos. Promoveu os primeiros afastamentos e despedimentos cruéis de jornalistas experimentados, na vida e na profissão, para dar lugar a jovenzinhos ambiciosos, muitos deles meros malabaristas sem pai nem mãe. A época, é certo, ajudou a fundar O Independente, a irreverência ao serviço da criatividade e de alguma irresponsabilidade. Mas também fez com que alguns diários sérios, de vetusta idade, quisessem pôr gel na careca e brinco na orelha porque assim, diziam eles, se chegaria melhor aos “jovens, pá”.
Na política, o culto dos “jovens, pá” produziu uma colheita de jovens agricultores subsidiados – como Braga de Macedo – que, como se saberia mais tarde, eram pouco jovens e muito menos agricultores. O cavaquismo tinha, aliás, uma virtude contrária às leis da natureza: secava tudo à volta, mas produzia rebentos destes.
Nesse tempo, Pedro Passos Coelho foi um jovem com opiniões próprias que desassossegaram o pensamento único do senhor Aníbal. Enquanto líder da JSD, mostrava desconforto público com o espartilho do vazio de ideias no interior do partido. E a falta de debate. Lembro-me de palavras e temas que ele lançava para os jornais que faziam espumar os vizires do sultão. E recordo como enfrentou, lá dentro, a polémica das propinas, sendo ele do partido do Governo. Tudo virtudes? Longe disso. Mas havia uma marca.
O tempo, entretanto, fez o que devia: passou.
E Pedro Passos Coelho atravessou o deserto.
Quando o voltamos a ver, vinha mais engravatado e bem escudado por Ângelo Correia. E com manias de líder, que quer ser à força. Vai daí, escreveu um livro. Título? “Mudar” (onde é que eu já li isto?). Os amigos e apaniguados dizem – e ele escreve – que tem ideias novas para o País. Escolho duas, retiradas da “obra”: privatizar ainda mais a Saúde e promover maior competitividade entre o público e privado. Louve-se o esforço de reflexão. Pedro Passos Coelho será um liberal nos costumes. Na política e economia propõe as receitas do costume. Fica a moral da história: ideias velhas não têm idade.