Porque a paixão é uma espécie de “droga” que pode fazer com que fique na dúvida, confuso, hesitante, incrédulo, bloqueado e até mesmo petrificado e em negação, só para continuar a sentir as borboletas e o seu efeito anestésico e delirante, decidi escrever sobre algumas “experiências” que não são sinónimo nem de encanto, nem de paixão, muito menos de Amor e admiração. E não o são, nem aqui, nem em sítio nenhum do mundo dito civilizado e mentalmente saudável.
E a pergunta é: Como é que no século vinte e um, muitas pessoas ainda confundem Amor com outros “conceitos” e “realidades” extremamente perigosos, prejudiciais, nefastos e que são expressão de total insanidade. Eu continuo a ficar atónita…
Mas, o que é certo é que do mesmo modo que se fala em guerra, invasões e mísseis de maneira natural, e todas estas palavras e respetivas representações já deviam há muito ter sido abolidas do léxico e “mentes” mundiais, igualmente a humanidade continua a confundir emoções e sentimentos negativos e tóxicos com Amor.
Tanta informação desnecessária, fútil e superficial continua a ser fornecida nas escolas às nossas crianças, futuros adultos, mas não se lhes ensina como gerir as suas emoções, como se relacionarem, que valores, princípios e limites devem ser respeitados, como gerir diferenças e mediar conflitos e como se relaciona e comporta quem realmente gosta de nós. Talvez a “guerra do Amor” também sustente alguns interesses menos óbvios.
Mais grave do que o subdesenvolvimento e a crise económica, é a dramática ignorância dos limites do respeito pelo próximo e do aceitável e inaceitável, no que toca às relações afetivas: a iliteracia do Amor, dos afetos e das emoções. Um longo caminho a percorrer…
Perfaz seis anos que escrevi o livro “Pessoas que nos fazem felizes”! O meu propósito e intenção eram os mesmos do presente artigo: chamar a atenção para um “mundo” de crenças irracionais relativas a um conjunto de comportamentos, que são vulgarmente normalizados e que de “normal” nada revelam.
Verdade, todos temos um conceito de Amor e afetividade diferentes e as nossas expectativas quanto ao que desejamos viver numa relação também podem ser diferentes, porque somos únicos, logo diferentes, mas existem “realidades” que por mais que alguns tentem “encaixar” no conceito de Amor, são como aquelas “peças” que tentamos colocar naquele enorme puzzle que estamos a contruir e, porque já estamos fartos, cansados e desesperados, tentamos que encaixem, mas simplesmente não acontece.
São essas as “peças” a que deve estar atento, sob pena de poder estar a construir, não o que imaginou, mas algo bem diferente.
E pergunta-me: Mas que “peças” são essas? Como as descubro?
Vamos por etapas! Falemos daquelas “peças” que não pertencem, nem pertencerão NUNCA ao puzzle do Amor, ou mesmo da amizade, aqui ou do outro lado do mundo.
Quem o culpa repetidamente por aquilo que sucede, pelos pensamentos e emoções que expressa e forma como se sente, responsabilizando-o por tudo o que sucede e não sucede na sua vida, pressionando-o a agir segundo a sua vontade, não só não gosta de si, como não o respeita. Culpa repetida não é Amor é insanidade e um perigo para a sua saúde mental e física. A vitimização é a outra face da “peça”. Andam de mãos dadas. A “gaiola” tem sempre uma abertura…descubra-a e voe!
Quem desconfia de si constantemente, colocando em causa a sua palavra, dignidade, integridade, imagem e reputação, não gosta de si. Isso não é Amor, é reflexo de elevada insegurança. A confiança recíproca é um dos alicerces mais importantes numa relação de Amor e possibilita a criação de laços de proximidade e de afeto. Você sabe que é uma pessoa confiável e isso basta. O problema não é seu, é de quem o “tortura” psicologicamente com ciúme obsessivo.
Quem o critica e inferioriza repetidamente, ainda que subtil e sarcasticamente, não gosta de si! Precisa de o fazer para se sentir menos insuficiente e insignificante. A admiração e valorização estão presentes quando se trata de Amor de verdade. Fazer como a avestruz não adianta. Um dia vai ter de tirar a cabeça da areia e quanto mais cedo melhor. “Salvar” o seu Amor próprio, autoestima, autoconfiança, a sua saúde mental e física é o mais importante, não se esqueça!
Quem o tenta dominar, controlar, castrar, abolir a sua vontade própria; quem lhe “mata” os sonhos e o faz acreditar que amor é dependência, dois em um e asfixia, não gosta de si! Você não é metade de laranja nenhuma, é completo e a sua felicidade e bem-estar dependem de si. Um outro, apenas pode acrescentar. O medo da solidão, carência, necessidade de aceitação, crenças irracionais e desejo de viver uma paixão idealizada podem ser algumas das razões que o fazem permanecer e aceitar o inaceitável.
Quem sente necessidade de discutir e entrar em conflito consigo vez após vez, lhe suga a energia e o faz sentir um inexplicável cansaço, para além de ter uma forma perversa de não gostar, não lhe faz bem algum. Pelo contrário, faz-lhe mal. Fuja!
Quem, ora lhe dá cinco minutos de atenção, ora o ignora alguns dias, senão semanas ou meses, ignora as suas necessidades quaisquer que elas sejam, aparece e desaparece como os fantasmas, o põe no “palácio do amor” e logo no “banco dos suplentes” faz promessas e assume compromissos, mete os pés pelas mãos e não os cumpre, mente e dá estranhas desculpas, quem não tem tempo, atenção e amor para lhe dar, não gosta de si! E, quanto mais depressa o aceitar, mais depressa saberá definir quem quer e que relação merece ter.
Não se esqueça nunca: O maior compromisso da sua vida é com o seu Amor próprio. Como poderá viver o Amor sem um “pingo” de Amor próprio?
Amor de verdade constrói-se sobre sólidos alicerces de Amor próprio, elevada autoestima e autoconfiança, responsabilidade, confiança, aceitação e valorização, respeito pela vontade, espaço e tempo do outro, serenidade e tranquilidade, e especialmente empatia para com as emoções e sentimentos de quem amamos.
Amor é criar espaço dentro de nós para que o outro “floresça” mais e mais e mais…e sorrirmos ao apercebermo-nos como isso nos faz sentir um bem-estar e felicidades indiscritíveis.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.