Vivemos numa época de mudança a vários níveis. A tecnologia entrou nas nossas vidas de uma forma avassaladora, ganhou o seu espaço e, seguramente, veio para ficar.
Sem que nos tenhamos apercebido, o nosso tempo foi roubado e estamos agora reféns de um ecrã, de uma rede social, das aparências, da curiosidade e até de alguns sentimentos negativos que invadem redes sociais, páginas e apps.
Frequentemente observamos manifestações de ódio, críticas severas a quem não se conhece, muitas delas potenciadas pela distância e pelo sentimento de que, atrás de um ecrã, tudo é permitido. Este estilo de vida por nós adotado já nos traz muita ansiedade e até estados de humor mais depressivos. Todavia, afastarmo-nos destes comportamentos constantes de conexão, da dependência de saber sobre a vida alheia e de expor a nossa vida, tem-se revelado difícil.
Alguns de nós começam a ter perceção de que o tempo despendido em frente a estes dispositivos é demasiado e de que poderiam utilizar esse tempo para outras atividades gratificantes. Damos por nós a, instintivamente, abrir uma qualquer rede social e correr o “feed”, até sem grande interesse, mas num ato compulsivo de consumir algo e “matar o tempo”. Esperar, nem que sejam cinco minutos, é sinónima de pegar num telemóvel e dirigir o dedo ao “mundo social”.
Quantas vezes damos por nós a “estar sem verdadeiramente estar”? Sentados com a nossa família, ao lado dos nossos filhos ou na cama com o nosso companheiro ou companheira, sem que na verdade ali estejamos. Este novo mundo permite-nos um alhear da realidade, um não ter que pensar, não ter que mover esforços, apenas na inutilidade. Não que haja algum problema com a inutilidade! Todos precisamos de um pouco de inutilidade no nosso dia-a-dia. Mas não estaremos a sobrecarregar-nos com comportamentos ritualizados que apenas nos roubam tempo de qualidade para usufruir de outras coisas, dos nossos amigos, da nossa família ou até da nossa própria companhia.
Talvez seja altura de nos libertarmos destas correntes invisíveis que nos prendem a um mundo fictício e dedicarmo-nos a nós mesmos e àqueles que nos rodeiam. Não é sensato que uma família esteja fisicamente junta, mas emocionalmente distante e alheada num qualquer dispositivo. Urge recuperar o tempo em família, o tempo que muitas vezes as tecnologias nos roubam.