Faça as contas! Quantas horas da sua vida passou a discutir com o seu companheiro/a até ao dia de hoje? Quantos dias? Quantas semanas, meses ou até anos? SOME TUDO! Junte as birras e os amuos!
Será que todas as discussões valeram realmente a pena? Sim, eu sei que vai responder-me: “Sim, algumas sim!” E todas as outras?
O que poderiam ter feito se os dois não tivessem escolhido discutir?
Já alguma vez pensou: “E se eu decidir não discutir e decidir ir passear?” ou, “E se eu decidir não ter razão e for fazer algo que realmente me apeteça?” ou, “E se eu não amuar e tentar conversar?” ou, “E se eu passar à frente e perdoar?”
Não estou a dizer que não dê importância quando tem importância para si, para os dois, ou mesmo só para o seu companheiro/a. Estou a dizer que é possível ter conversas em que ambos escutam, exprimem os seus pontos de vista e necessidades, demonstram empatia e tentam chegar a um acordo. E se não é possível, não é a falarem os dois ao mesmo tempo, a gritarem e a magoarem-se que vão resolver o que quer que seja.
Estou a referir-me a discussões acesas e fulminantes em que os dois não se ouvem, em que se criticam e culpam incessantemente, em que que se sentem ameaçados e se defendem com “unhas e dentes” quando não com “artilharia pesada e alguns mísseis”, em que querem obsessivamente ter razão.
Quantas infrutíferas e desgastantes discussões, se pudesse, e tivesse uma borracha, apagaria da sua vida?
Porque continua a querer ter razão? Porque o seu companheiro/a quer sempre ter razão? Porque é importante para si que o seu companheiro/a lhe dê razão? Porque é que ele/ela precisa tanto que lhe dê razão? Precisa mesmo de ter razão? Porquê? O que faz com ela? Sente-se feliz quando tem razão?
Fazer depender a nossa identidade e felicidade de ter razão não é seguramente uma boa decisão. Sabe porquê? Porque vai tornar-se prisioneiro da razão e o seu bem-estar emocional e psicológico vão depender de ter ou não razão. É isso que quer para si?
Porque quer que o seu companheiro/a pense e faça da mesma maneira? Porque tenta convencê-lo/a que é assim e não como ele/ela pensa ou faz? Quanta energia despende ao fazê-lo? Quanto se cansa? Quanto se desilude e frustra? Ele/ela faz o mesmo consigo?
Existem casais que discutem todos os dias. São aditivos de discussões para se sentirem menos sós, mais vivos, e sentirem que tem a atenção um do outro. Que forma emocionalmente pouco inteligente de interagirem! Não existirão outras maneiras de dizer o mesmo?
Já acompanhei muitos casais que discutiam porque um queria a janela fechada e o outro aberta, um queria sair e o outro não, um queria ir de férias e o outro ficar em casa, um queria ver televisão ou estar com os amigos e família e o outro não estava na mesma “onda”, um queria ir ao restaurante “Xpto” e o outro não, um gastava mais vinte euros do orçamento familiar e não partilhava nem ajudava em casa…
Não estou a afirmar que muitos destes motivos não sejam válidos. Tudo pode servir de motivo de discussão. Até o silencio e a falta de discussões. Especialmente, a indiferença, o “combustível” da maioria das discussões.
O que eu gostava que refletisse, é se essas discussões que começam, a maioria das vezes, por motivos mais ou menos banais, acontecem realmente por essas razões ou, por detrás delas, existirão outras razões bem mais profundas e complexas.
Quando os casais deixam de conseguir conversar sobre as suas diferenças e aquilo que os faz discordar, a maioria das vezes existem necessidades emocionais e afetivas que não estão a ser satisfeitas. Pode acontecer, igualmente, que algum deles, ou mesmo os dois, estejam a passar por etapas difíceis da sua vida profissional, pessoal ou familiar, ou ainda que tenham passado por experiências muito difíceis no seu passado que ainda não foram superadas e que são projetadas no outro e na relação, sem que os dois o percebam.
A necessidade de discutir, de “guerrear”, de ofender, magoar e culpar, pode originar-se e, a maioria das vezes assim sucede, na dor e sofrimento de quem sente necessidade de discutir. Pode ainda advir da necessidade de controlar e deter poder sob o outro e na relação. Estas pessoas podem sentir-se frequente e repetidamente ameaçadas e defenderem-se de imediato, independentemente dos factos que deram origem à discussão.
Insegurança, frágil autoestima e autoconfiança e egocentrismo podem ainda ser razões que explicam a necessidade patológica de estar em conflito e discutir repetidamente.
E o mais curioso é que muitos destes casais, depois de muitas batalhas, decidem finalmente separar-se para não discutir, e depois de divorciados, discutem ainda mais.
Pior, arrastam os filhos com eles, tentam que as crianças criem alianças e tomem partido, tentam manipulá-las e instrumentalizá-las e muitos destes pais e mães perdem o contacto com os seus filhos.
Ao longo de todos estes anos acompanhei muitos destes casais viciados em discussões. Muitos conseguiram consciencializar-se das verdadeiras razões por que eram aditivos de discussões e passaram a conversar sobre as suas diferentes perceções e necessidades.
Ter razão deixou de fazer sentido para todos eles. Desenvolveram aptidões e competências para respeitar e aceitar que o outro pensa e faz de modo diferente, e estratégias para chegar a acordos consensuais que reflitam o interesse dos dois.
Aprenderam a ser mais tolerantes, a controlar as suas emoções, a comunicar, a não ver o outro como inimigo, mas como o seu companheiro/a que lhes quer bem e os ama muito.
Aprenderam a não fazer juízos de valor precipitados, a não tiram ilações irrefletidas, a não sentenciar, a simplesmente ouvir e interrogar, a demonstrar compreensão, a olhar para o outro com profundo respeito, admiração e Amor. Afinal foi isso mesmo que os uniu, verdade?
Aprenderam a deixar de se fazer mal, a ver as qualidades e esforços, em vez de verem apenas as imperfeições, a não se queixarem e vitimizarem repetidamente, mas a concentrarem-se no que acontece de maravilhoso, a serem bondosos um com o outro e a perdoarem-se.
É quando temos pouco tempo de vida que realmente percebemos quanto tempo de vida desperdiçamos e quanta energia gastamos com escolhas que apenas nos sugam a energia do nosso cérebro e podem desencadear as mais variadas sequelas físicas.
Não espere nem mais um dia para deixar de “guerrear” e discutir, libertar-se da mágoa e ressentimentos e viver em paz.
Converse com o seu companheiro e tomem essa decisão AGORA.
Se ele não quiser, tome-a você!
Lembre-se, somos uma espécie de “nuvem” que passa e logo vai…
Viva com Paz e em Paz! Ela está dentro de si….
Não desperdice tempo de vida a discutir!
Converse, é o seu Amor que está a conversar consigo. Verdade?
Se não é, então relembre-se de quando o via com “esses olhos”, pergunte-se porque o deixou de ver e conversem com respeito, tolerância, compreensão e especialmente…
Deixem os vossos corações conversar… com Amor!
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