Independentemente da forma como se encara a criatividade, ninguém pode refutar a ideia que criar é ousar, é fugir dos parâmetros estereotipados e convencionais. É voltar a ser criança, não ter medo de arriscar e perceber que tudo pode ser encarado como uma brincadeira, em que se tira do mundo real e o transformamos. Pablo Picasso já dizia que todas as crianças nascem artistas. “O problema é manter -se artista depois de crescido”, afirmava o pintor. Pensar coisas novas exige fazer novas perguntas.
Todo a ato criativo reúne em si conhecimento, habilidade e atitude.
“As pessoas que vencem nesse mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam.” Bernard Shaw.
Acredito que há uma relação entre arte e criatividade. E aqui, entrando no mundo da paixão pelo que se faz, encontramos, dentro de nós, verdadeiros labirintos, povoados pela angústia de quem se torna diferente ou pensa diferente. Rasgar, romper com os modelos e clichês é arriscado e cria estados de espírito conflituosos. Vou em frente? Salto para o lado de lá? Deixo a minha paixão e criação morrer ou ouso mostrá-la ao mundo?
É tão bonito vermos alguém fazer aquilo que realmente gosta. É um luxo também. Um amor que inconscientemente é visível a qualquer um, traduzido no nosso olhar ou na forma como falamos ou trabalhamos.
É uma paixão que em alguns momentos é como um oceano cheio de certezas, em outros uma mão cheia de nada. É uma corrida ofegante por vezes cheia de força, carregada de certezas, orgulho, mas é também dor. Profunda angústia. Onde a paixão parece não ser suficiente e leva-nos a sentir um mau estar com o nosso próprio eu. É inevitável e penso que qualquer criativo passa por isso. Mas não será que somos assim sempre que amamos verdadeiramente algo?
Acredito mesmo que uma das razões da nossa existência é deixar a nossa marca com o que nos dá satisfação a realizar, e, uma das condições para isso acontecer é ser feito com amor, com alma!
Refiro-me àquilo que se faz com prazer, mesmo quando estamos cansados. Ao que se realiza sem arranjar desculpas, sem horas ou dias marcados.
Fazer aquilo que gostamos dá-nos a certeza de estarmos na rota certa nesta vida e isso proporciona-nos um sentimento de pertença. Sentimo-nos peça integrante do universo. Na nossa zona de conforto. Mesmo que isso acarrete tantas outras coisas menos boas.
A criatividade é a maior rebelião da existência. Faz sentido na medida em que, para descobrir um problema e resolvê-lo da melhor forma possível, precisamos enxergá-lo. Se aceitamos a realidade como ela é, dificilmente vamos teorizar sobre como ela poderia ser diferente ou melhor.
Muitas vezes sinto-me cansada, desiludida e incompreendida e, então, evoco Camões que, com voz “destemperada e enrouquecida” por “cantar a gente surda e endurecida”, não entendia a razão da nossa sociedade não valorizar e acompanhar o espírito criativo e a arte.
A angústia, em mim, nasce, não só de ter em mim um ser múltiplo (tal como Fernando Pessoa), mas também da falta de sensibilidade dos outros para reconhecerem e quererem fazer a diferença.
Se me perguntarem qual o meu lema de vida, responderei que, mesmo com todas as condicionantes, hei-de sempre lutar pelos meus ideais. Ousando e criando.