Cada vez mais as pessoas vivem numa espécie de “bolha de ar”, onde só elas existem. Elas e os seus pensamentos, emoções, sentimentos, vontades e caprichos. Para elas, os outros gravitam à sua volta e apenas são visíveis na medida em que satisfaçam os seus interesses e desejos.
E sabe porque essas pessoas continuam a viver nessas “bolhas” e a pensar que só elas existem e tem necessidades, dificuldades, problemas e frustrações?
Porque para lá dessas “bolhas” onde os egoístas vivem, vivem também muitas outras pessoas com um coração dentro do peito, com sentimentos, sensibilidade, empatia, bondade, capacidade de perdoar e uma paciência de Jó para os aturar, esperando que um dia o milagre aconteça, ele/ela saia da “bolha”, repare no pouco ou nada que lhe dá e, finalmente, aprenda a reconhecer, valorizar e em alguns casos, a amar.
Porque egoísmo, sim, é expressão de falta de Amor pelo outro.
E pergunto-lhe: acredita mesmo nisso?
A semana passada estava numa loja de uma superfície comercial e ouvi isto:
“Nunca me ofereceste uma lingerie, assim, gira!”
Resposta do acompanhante:
“Tu também nunca me deste uns boxers!”
Outra história real:
“Uma vez que trabalha por conta própria, é possível começar a trabalhar mais cedo, por volta das oito da manhã, mas chegar a casa antes das oito da noite para poder estar com a sua companheira e filha?”
Resposta:
“Nem pensar! Impossível.”
Ainda outro exemplo bem ilustrativo:
“Tudo o que é importante para mim, as minhas necessidades, sejam quais forem, não existem. Sinto que não existo para ela. Só pensa nela…”
Muito para além de egoísmo e de incapacidade de amar, ignorar o outro e as suas necessidades, quaisquer que sejam, parece-me que consolida uma total falta de respeito.
Tratar o outro como alguém que não existe, não pensa, ou pensa, mas o que pensa não tem valor e muito menos interesse;
Servir-se dele e usá-lo a seu belo prazer, e depois deixá-lo em “banho maria” ou “deitá-lo no lixo”;
Dar-lhe palmadinhas nas costas, mas estar-se nas tintas para ele quando este precisa da sua atenção, apoio, ajuda, consolo ou apenas de uma palavra de esperança;
Definir o trajeto que lhe interessa e colocá-lo na “rota do avião” que comanda, passando apenas por onde quer e lhe apetece…;
É, senão má formação, total desrespeito pelo próximo, especialmente quando estão em causa relações de afeto.
Todos o sentimos nas filas de trânsito, nas ruas, no trabalho, experienciamo-lo em certas inimizades, mas na Família? No Amor? Com o nosso/a companheiro/a? Com os nossos familiares?
Será aceitável? Será que tem mesmo de calar e aceitar o inaceitável?
Se essa pessoa demonstra repetidamente:
Que o que é importante para si, não tem qualquer importância para ela;
Se não lhe dá a atenção que sabe que merece, se não a ouve, se só fale dela e dela e dela;
Se só faz o que lhe apetece;
Se “vai e vem” na sua vida, aparece, desaparece… dá uma migalha e acha que deu uma montanha;
Se cobra a toda a hora, queixa-se, vitimiza-se e responsabiliza-o pela sua insatisfação e infelicidade;
Se fá-lo sentir que ainda tem de se esquecer mais de si, para pensar mais nele e, então aí, talvez tenha direito não a uma migalha, mas a uma cenourinha à frente do nariz, com a qual lhe acena dia e noite para a fazer pensar que embora ausente, sempre presente no seu pensamento, quando lhe dá jeito ou se lembra que está sozinho dentro de uma gigantesca bolha que não lhe faz companhia…
Se conhece uma pessoa assim, se tem na sua vida uma pessoa assim, talvez tenha chegado o momento de pensar porque escolhe continuar a tê-la na sua vida.
Sabia que os outros o tratam consoante você pensa que merece ser tratado?
É você, não os outros, quem define como quer ser tratado e respeitado.
Ao aceitar relacionar-se com uma pessoa que só consegue olhar para o seu próprio umbigo, está a aceitar que não merece mais do que ela lhe dá.
Ao pensar que, desculpando, fazendo de conta, dando mais um bocadinho… este conseguirá vê-lo, irá acenar-lhe da sua bolha, pegar numa tesoura, rompê-la e sair dela… está a enganar-se a si próprio, porque isso não vai acontecer nunca. Sabe porquê?
Porque essa pessoa que o trata dessa forma, nem imagina que quer ser tratado de outra. Dá por garantido! E no dia em que o verbalizar, ainda vai ouvir: “Mas não sabia! Já podias ter dito! Não desconfiava que era tão importante! Mas porque é que é importante, não percebo!”
A menos que você diga: “Existo, estou aqui, quero mais, mereço mais!”, seja a um namorado, companheiro, mãe, pai, irmão ou mesmo colega de trabalho… nenhuma mudança vai acontecer.
Só verbalizando-o é que essa pessoa vai abrir os olhos, começar a ouvi-lo e a respeitá-lo mais.
Se não o fizer e continuar a alimentar o seu egoísmo e egocentrismo, já sabe com o que conta! Poderá vir a experienciar um cada vez maior sentimento de impotência, frustração e solidão.
Tente visualizar a sua vida daqui a um mês com essa pessoa, daqui a três, seis, um ano.
É isso que quer para si?
Então, comece por expressar-lhe como a sua atitude autocentrada o faz sentir, sem o culpabilizar.
Tente perceber se existe interesse, atenção, empatia, conforto emocional enquanto expressa as suas emoções, sentimentos e desejos.
Permita que também ele/ela expresse as suas emoções e o que está a sentir.
A negação é a melhor amiga da solidão emocional e afetiva.
Relacionar-se com um egoísta pode provocar-lhe intenso desgaste emocional e psicológico, na incessante busca de o satisfazer esperando que um dia se lembre de olhar para si.
Olhe você para si, descubra o seu valor, capacidades, talentos, aptidões… coloque tudo numa caixa. O seu valor é intocável!
Só quem conseguir apreciá-lo, valorizar a sua companhia, reconhecer o que é importante para si e demonstrar real interesse por si e por aquilo que acontece consigo e na sua vida, merece conhecê-lo melhor, estar e partilhar a sua vida.
Por vezes é mesmo preciso encontrar essa “agulha no palheiro”, “furar-lhes” a bolha, tirar-lhes um pouco de oxigénio, para perceberem que não estão sozinhos e não podem fazer o que querem e lhes apetece porque magoam e ferem.
É preciso acordá-los de um “sono profundo” e fazê-los perceber que os outros também existem e que têm emoções e sentimentos.
É preciso despertá-los para o dever de respeitar as outras pessoas.
Porque egoísmo exacerbado é sinónimo de desrespeito para consigo e, se permite que o desrespeitem, está a desrespeitar-se a si próprio.
Não o permita, pela sua saúde mental e física!
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