O que faz um homem,
Quando já amou a primeira, mas não ama mais…
Quando não ama a segunda, mas o sexo é bom…
Quando não consegue deixar de pensar na terceira que acabou de conhecer e com quem gostava de namorar?
O que faz um homem separado quando não consegue cortar os laços com a ex., a mãe dos seus filhos já adultos e, em muitos casos, também sua mãe ao longo de décadas de um casamento que deixou de ser casamento e se transformou numa “casa” com muitas coisas, entre as quais eles os dois, em que cada uma delas é uma referência, zona de conforto, reflexo das suas conquistas, todas com uma história de vida a dois que é revida em cada olhar…
A casa onde volta sempre que lhe apetece, porque ela, a ex.mulher/mãe dele e dos filhos o consente… e onde a encontra como a um bibelô, a ela e ao “velho” sofá onde durante anos se sentou e dormiu… aquele lugar só dele, mesmo em frente à televisão… o seu lugar… que também ainda existe à mesa de refeições… a comida que tão bem conhece, os pratos, os copos, os talheres… aquela mesma conversa que sempre adivinha como vai acabar, a mesma indiferença, o mesmo tom de voz que o irrita e que o faz sentir um conforto inconfortável, tão gasto de conhecido que lhe dá vontade de deitar para o lixo, de ficar mas de fugir, de calar e de gritar, mas especialmente de encontrar a resposta para duas perguntas que lhe martelam com força o espirito e também a alma: “Mas o que é que eu faço ainda aqui? Porque volto, depois de partido e de ter uma casa e sofá novos à minha espera?”
É essa pergunta, mais do que qualquer outra coisa que o faz voltar, vez após vez, ao lugar onde um dia foi feliz ou talvez mais infeliz do que algum dia imaginou ser, e tentar teimosamente encontrar um fim bonito para uma história que também ele imaginou bonita para sempre, mas que terminou, ou vai terminando depois de há muito ter terminado…como se o livro não tivesse mais páginas e ele continuasse com ele aberto sem o conseguir fechar! Como se o filme há muito tivesse acabado e ele continuasse sentado a olhar para a tela e lesse vez após vez a palavra fim e não se conseguisse levantar.
O que é que faz um homem que já se divorciou legal e emocionalmente daquela mulher há mais de uma década e que já não a ama, voltar a casa depois de ter saído de casa, como quem regressa ao ninho depois de aprender a voar sozinho, abrir a porta e contemplar paredes, móveis, matéria… à procura de um Amor que partiu antes dele e nem sequer se despediu?
O que faz este mesmo homem sentir-se “aprisionado” numa relação com outro alguém que tem menos vinte anos que ele, e por quem sente uma atração que não consegue explicar, porque não é, nunca foi, nem será a mulher que quer como companheira, mas de quem não consegue afastar-se? Uma espécie de droga que precisa consumir todos os dias, que sabe que lhe faz mal, que a adição é cada vez mais elevada, mas que não consegue deixar… e em troca, dá-lhe o Amor de um pai, bom gosto, educa-a, ensina-a a comportar-se, ajuda-a a progredir na vida…mas nada parece resultar?
O que faz este homem quando o sexo é gratificante, mas essa pessoa, no auge da sua juventude, tem comportamentos e atitudes que lhe parecem completamente “fora da caixa”, levando-o a desempenhar o papel de pai que ela tanto gosta e odeia, e que motiva discussões sem fim, em que o tenta dominar, controlar, manipular, competir, desafiar, criticar…?
O que faz esse homem quando sente vontade de a ver, de estar com ela, mas … existe sempre um “mas” que a sua intuição lhe grita cada vez mais alto sob a forma de sucessivas perguntas que não o deixam dormir, nem em paz, noite após noite: “Mas porque raio eu não acabo com isto se sei que não vai dar em nada? Que não tem nada a ver comigo? Que me vai trocar por um qualquer idiota da idade dela ao virar da esquina?”
O que faz este homem quando conhece uma outra mulher para além da ex. e da “miúda” que o faz sentir pinguins a dançar dentro da barriga, esquecer as outras duas e pensar nela todos os dias?
O que faz esse “herói” que sobrevive estoicamente a alguns encontros com aquela outra mulher com quem sente poder vir a contruir uma relação de amor no futuro, mas que o passado teima em torná-lo cativo, e o presente, prisioneiro de si próprio?
Esta não é uma história singular. Existem milhões de histórias destas pelo mundo fora, vividas por homens, mas também experienciadas por muitas mulheres, de todas as idades, classes sociais, níveis de formação… as quais provocam um desgaste emocional e sofrimento gigantesco a quem as vive.
De uma maneira geral, a maioria das pessoas, ao contrário do que se possa pensar, apresenta grande dificuldade em terminar uma relação, especialmente quando se trata de relações de longa duração.
Algumas mantêm-se com “um pé dentro e outro fora” da relação, mesmo depois de legalmente divorciados e apesar de terem outra relação, pois ainda mantêm algum tipo de expetativa relativamente à mesma, receiam ficar sozinhos, sentem sérias dificuldades em encarar a rutura, existe uma elevada dependência emocional e/ou detêm algum tipo de interesse financeiro.
Também a necessidade de “posse” sobre o outro e o controlo sobre a sua vida, podem fazer com que algumas pessoas escolham viver essa espécie de “relações hibridas” sem conseguirem fazer o luto da separação, continuando a comportar-se, a ter rotinas e a cumprir rituais como se estivessem casados. A rutura e sentimento de perda associado podem fazer gerar uma intensa angústia e ansiedade, razão pela qual muitas delas escolhem viver essa relação “estado de limbo”, com os supervenientes custos emocionais.
Especialmente quando o companheiro/a desempenhou um papel maternal muito ativo, tendo-se criado uma intensa dependência quanto às necessidades básicas, como por exemplo em termos de alimentação e execução de refeições, a dependência existente pode comprometer seriamente o natural processo de desligamento e fazer com que a pessoa dependente pense que precisa manter-se à mercê da outra e dos cuidados da outra, como se de uma criança se tratasse.
Também o sentimento de culpa e aquilo que o ex. companheiro pensa sobre si, faz muitos reféns! Muitos homens e mulheres separam-se, mas não se separam verdadeiramente dos seus exs., porque carregam um enorme sentimento de culpa derivado das mais variadas situações, especialmente por terem traído, porque precisam se validar no outro e que o outro tenha e continue a ter uma boa imagem de si.
Por último existem ainda muitas pessoas que pensam que se adoecerem ou precisarem de alguma coisa, o ex. estará lá para ajudar e acompanhar, o que na maioria das situações é pura ilusão senão fantasia.
O que faz um homem que parece estar ligado por um “cordão umbilical” à ex., que se apaixona pela ideia de estar apaixonado por uma mulher a quem chama de miúda, e de viver um grande Amor, ainda que seja só um grande sexo, e que sabe que não é a mulher que quer ao seu lado, não só porque tem menos vinte anos, mas porque o deixa maluco com o que diz e faz?
Aconselho-o a pensar porque escolheu essa mesma mulher para ter uma sucessão de casos. Porque não é só um, são vários, uns a seguir aos outros, num ritmo alucinante, entre começa, acaba, recomeça e volta a acabar…e se existem momentos em que as tempestades parecem espaçar-se, logo depois se repetem, parecendo ciclos viciosos altamente viciantes.
Será que não lhe “dá jeito” ter essa mulher e não assumir nenhum compromisso?
Sabe que existem pessoas que afirmam a pés juntos querer ter um compromisso e que quando o outro finalmente diz que sim, fogem porque não querem assumir compromisso algum?
Muitas outras quando a proximidade emocional começa a acentuar-se inventam conflitos e/ou conferem-lhes uma gravidade extrema e terminam a relação.
A escolha de uma mulher ou de um homem muito mais jovem e uma relação trepidante e conflituosa constituem defesas mais que potentes para não assumir um compromisso e assim não colocar em risco a “relação primária” com a ex.
Existem pessoas que vivem estas situações anos a fio sem conseguir perceber o que com elas se passa e muito menos libertar-se.
E quando surge uma terceira pessoa no meio daquilo que parece ser a viagem entre o purgatório e o inferno? O que é que pode acontecer?
O pior que pode acontecer é não acontecer nada e o “Actor principal” apesar de sentir um forte desejo de terminar as duas relações, não o conseguir fazer e acabar por continuar preso nessa espécie de teia que o envolve, aperta e desgasta cada vez mais.
O melhor que pode acontecer é isso servir de “trampolim” para uma transformação interior que irá possibilitar-lhe compreender porque precisou permanecer nessas duas relações doentias, descobrir-se, conhecer-se e, quem sabe, encontrar um Amor maduro e saudável que lhe faça bem e com quem se sinta muito melhor.
Nesse momento, a sua intuição em vez de lhe dizer “O que estás aqui a fazer?” vai gritar-lhe baixinho “Que vontade de ficar, mais e mais e mais…”
Algumas pessoas aparecem na nossa vida apenas para nos recordar que podemos ter o que sempre desejámos ter e que os medos apesar de parecerem maiores do que nós, quando encarados de frente ficam cada vez mais pequeninos, até se esfumarem por completo.
Por vezes o papel do terceiro elemento é esse mesmo! Um abrir de olhos inspirador para o fechar de um ou vários livros, ou para sair do cinema porque o filme já terminou há muito tempo.
Não podemos avançar e sentir o esplendor da vida se continuamos agarrados a um passado que não existe mais ou a um presente que nos faz sentir “andar de muletas”, aceitando ter relações em que falta quase tudo…
O que pode fazer um homem quando pensa precisar de duas mulheres ao mesmo tempo e surge uma terceira que não lhe sai da cabeça?
Olhar para dentro e perguntar-se:
Porque é que eu preciso de três mulheres e não me é suficiente amar e sentir-me amado por uma só mulher?
Esta pergunta pode ser feita igualmente por mulheres que sentem necessidade de ter vários companheiros ao mesmo tempo.
Medo de perda, de rejeição, de abandono, insegurança, baixa auto-confiança, experiências marcantes, dificuldade em confiar e em se entregar, necessidade de vivenciar experiências indutoras de elevado grau de adrenalina, compromissofobia, extrema necessidade de atenção e de se sentir amado, entre muitas outras razões, explicam essa mesma procura de manter várias relações ao mesmo tempo.
No entanto, cada caso é um caso diferente de todos os outros e as motivações, a maioria podem encontrar-se “escondidas” no inconsciente de quem vive essas mesmas relações, pelo que pode não ser fácil descobri-las, identificá-las e verbalizá-las, mas parece-me ser o único caminho para o autoconhecimento, dissipação da ansiedade, sofrimento e sentimento de desgaste emocional brutal que essas mesmas relações envolvem.
Se tem mais de uma relação e se sente feliz, é uma opção sua, mas lembre-se sempre de ser verdadeiro com as outras pessoas envolvidas acerca das suas intenções, porque o que semeamos em vida, mais cedo, ou mais tarde, colhemos em vida!
A vida é um risco, Amar é um risco, mas quando a vivemos com verdade e amamos com verdade… valeu sempre a pena!
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