Ana conheceu João, e os dois sentiram uma atração fulminante. Saíram algumas vezes e, ao final de duas semanas, João disse-lhe que estava louco por ela, que era a mulher da sua vida, que queria casar e ter um filho dela. Insistiu para ela conhecer a sua mãe, pediu-lhe para dormir em casa dele, falava sobre o futuro e fazia projetos a dois.
Ana pensou que tinha finalmente encontrado o príncipe, o tal, o certo, a alma gémea ou o dois em um, mas, receando estatelar-se no chão, pediu-lhe para irem com calma.
O encantamento dele era total, a sua paixão parecia ter asas e voar, a esperança de que fosse um amor para sempre parecia cada vez mais consistente e o sentimento de que eram uma família era por ele alimentado a cada instante.
Quatro semanas depois, sem conflitos, sem zangas, sem discussões, sem motivo aparente, sem razões óbvias ou sub-reptícias, João ligou a Ana e terminou a relação. Referiu que não queria ter nenhuma relação.
Ana sentiu-se enganada e perguntava-se como era possível existirem pessoas tão cruéis e mal formadas.
Pedro namorava há quatro meses com Sofia e os dois já praticamente viviam juntos há dois meses, quando Sofia lhe disse que iria concretizar um dos seus sonhos mais queridos: viajar até ao outro lado do mundo. Apesar de ficar triste por não a poder acompanhar, incentivou-a a ir.
No dia em que partiu Sofia disse-lhe que não sabia como iria suportar as saudades e conseguir dormir sem ele ao seu lado.
Duas semanas depois, por Messenger, Sofia terminou a relação sem apresentar qualquer explicação.
Pedro sentiu-se destroçado.
Mas o que é isto?
Não estamos a falar de adolescentes! Estamos a falar de pessoas adultas com idades entre os trinta e os cinquenta ou mais anos, que batem com a porta de uma relação como quem bate com a porta do carro.
Não é um caso isolado! São às “paletes” aqueles que vivem estas situações e que me procuram para os ajudar a compreender aquilo que não é compreensível e muito menos aceitável, nem aqui nem em mundo algum dito civilizado e em que as pessoas se respeitem.
Brinca-se às relações amorosas e com os sentimentos das pessoas, como quem brinca com os jogos do telemóvel ou como quem vê televisão, num registo de “agora apetece-me… agora já não me apetece… mais logo talvez me apeteça…”
E passados alguns dias, algumas dessas pessoas ainda tem a coragem,(ou será o desplante ou a “lata”?) de virem ver o que está a acontecer com quem deitaram no “caixote” e propor encontrarem-se, tomarem uns copos, ficarem amigos, partilharem a cama de vez em quando… quando a eles lhe apetece e dá jeito.
Não dá para acreditar? Está chocado? Se me viessem contar e não tivesse, não uma, mas cada vez mais pessoas à minha frente a chorar e a perguntar-me o que fizeram de errado, também eu não acreditaria.
A descartabilidade chegou às relações amorosas, impera e tem uma velocidade cada vez mais estonteante.
O que o outro pensa, sente ou que dor vai sentir, é indiferente.
Acabam-se relações e colocam-se relações no lixo como pacotes de leite, iogurtes ou qualquer outro alimento. Parece cada vez menos importante conversar, explicar, respeitar… A rejeição e o abandono que o outro sente e as marcas que dificilmente se apagarão parecem não importar a quem vive as relações como uma partida de ténis e deixa de jogar porque está a perder ou lhe apetece jogar com outro parceiro, ou lhe apetece ir fazer outra coisa qualquer.
Más escolhas? Por vezes, sim! Existem pessoas que escolhem outras e logo nos primeiros dias aceitam coisas que não passam pela cabeça de ninguém só para viverem um romance, não estarem sozinhas ou poderem dizer que têm um namorado/a! Mas a maioria, acredita e confia (e ainda bem que ainda assim é!) que o outro está a ser verdadeiro, que gosta, que quer, que é bem formado, que tem princípios e valores, que tem empatia suficiente para não o fazer, não dessa forma.
Ninguém prevê que possa acontecer, assim tão cruelmente, porque ninguém escolhe para namorados/as psicopatas.
E sabe qual é o problema? É que só o tempo permite perceber se estamos numa relação com um egocêntrico, um narcisista ou um psicopata. E durante todo esse tempo, as pessoas vão acreditando, vão investindo, vão se apaixonando, vão amando… quem por vezes não merece um segundo de atenção quanto mais ser amado.
Terminar relações com dignidade devia ser uma das temáticas a abordar nas escolas, assim como muitas outras, em vez de muitas matérias que não servem para nada.
Ensinar às crianças que os outros têm sentimentos e que sofrem quando não são respeitados, que existem pessoas que são doentes mentais que não sabem o que é o amor e explicar-lhes a diferença entre Amor e desamor, certamente faria toda a diferença nas gerações futuras.
Quanto às gerações dos trinta, quarenta, cinquenta anos… muitas destas pessoas saltam das relações via Messenger, SMS ou Skype para aterrar numa outra qualquer “boia” que os leva até à boia seguinte, e assim passam a sua vida de boia em boia…
Todas elas deveriam ser confrontadas com o sofrimento que causam aos outros os caramelos envenenados que lhes oferecem, para os quais não existe antidoto, golpeando-lhes a auto-estima, fazendo-as perder a auto-confiança, algumas deixam mesmo de conseguir confiar e de acreditar no Amor.
Se viveu ou vive uma história semelhante e se se identificou saiba que a probabilidade de a decisão da ruptura estar relacionada com algo de errado que fez é muito reduzida. Essa é uma atitude que tem a ver com as dificuldades e, sobretudo, com os interesses da pessoa que a tomou. Normalmente investem tudo, começam rapidamente a cobrar sub-repticiamente, algumas vitimizam-se, desinvestem tudo, desaparecem e ficam a ver o que acontece. Se o outro não os procura, voltam a tentar!
Cada caso é um caso!
É muito difícil aceitar sair de um filme romântico para um filme de terror. Precisa dar-se tempo para aceitar a situação. Se sentir que não consegue sozinho converse com um amigo da sua confiança ou peça ajuda.
Algumas destas pessoas, a maioria muito sedutoras e com grande poder de argumentação e persuasão, apaixonam-se e desapaixonam-se como quem veste e despe um casaco. Tente conhecer melhor antes de dar um passo mais sério como viver juntos.
Outras, no início da relação apresentam grande ansiedade para avançar e ter intimidade sexual, e outras ainda, quando são frustrados nas suas intenções, castigam, alternando entre presenças, ausências e silêncios.
É você quem decide que expectativas tem. Pelo menos nos primeiros dias seja você a geri-las e não permita que seja um outro que acabou de conhecer a dizer-lhe quem é. Você sabe quem é e qual o seu valor! Não se deixe impressionar com elogios e promessas.
Existem muitas versões da cantiga do bandido e Don Juan(s) na versão masculina e feminina não faltam por aí. Mas também existem pessoas dignas e bem formadas que sabem amar. Escolha as segundas!
Quando lhe prometerem um castelo, prefira uma casa modesta;
Quando tudo lhe parecer mágico e fantasioso e assemelhar-se a um romance cor-de-rosa ou a um daqueles filmes românticos de Hollywood, coloque pelo menos um dos pés no chão. A vida tem todas as cores e uma relação de amor também!
Existem por ai muitos desesperados e desesperadas que dizem que amam perdidamente porque precisam urgentemente se sentir amados.
Se a sua intuição lhe disser “tem cuidado!” ouça-a!
Se o príncipe ou a princesa lhe fizerem mil promessas, sem o conhecer, fique atento e desacelere! Se desacelerar, ele/ela vai ser obrigado/a a desacelerar também e vai ter a oportunidade de saber como ele/ela lida com a frustração e conhecê-lo/a melhor.
Se começar a perceber que é Amor de plástico, de pouca dura, ou só blábláblá… e as atitudes demonstrarem egoísmo, total “desempatia”, indiferença e/ou desamor, pense bem se é isso que quer para si!
Se ele/ela terminaram a relação via novos meios de comunicação, sorte a sua! É provável que lhe tenha feito um enorme favor: alguém que termina uma relação virtualmente não é de confiança, é cobarde e muito menos merece o seu Amor.
Somos adultos! Temos a obrigação de assumir as nossas responsabilidades. Ter uma relação é assumir um compromisso e é uma responsabilidade, não é uma brincadeira!
Lembre-se: não é a única pessoa do mundo a experienciar esta situação. Milhões de pessoas já a viveram, superaram e encontraram novos companheiros que as respeitam.
Se pode andar, ver e ouvir, pode ir ter consigo, conversar consigo, explicar-lhe o que sente ou não sente mais, dar-lhe uma qualquer razão, mesmo que seja a mais estupida do mundo e, depois, partir.
Não invente justificações! Se não o fez, ou o fez por qualquer outro meio, foi uma decisão dele/dela que revela a sua personalidade e carácter.
É preciso coragem, sim, mas o Respeito pelo próximo assim o exige!
Será que também estamos a deixar de saber o que é dignidade e o que é respeitar o outro?
Porquê aceitar e correr atrás de um Amor de plástico se pode ter um Amor de verdade?
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