Estamos a chegar a um ano charneira no cenário do consumo global, o de 2020. Com o início da nova década prevê-se que aconteçam profundas mudanças no campo das práticas de consumo, da criação de novos negócios inovadores, e no perfil de novas maiorias populares que começarão a ganhar espaço no mercado para as quais a indústria e as marcas irão produzir e vender produtos adequados. Estas novas maiorias serão antigas minorias étnicas, raciais e religiosas, e as marcas terão de perceber como elas se comportam, gastam dinheiro, fazem escolhas, e que serviços e produtos procuram.
Já todos ouvimos e lemos sobre as gerações x, Z, Millenial, mas ainda pouco se falou de uma nova maioria e nova geração de consumo que nos próximos anos ditará o comércio e os negócios digitais, inicialmente a partir de países como os EUA ou o Kuwait, mas que alastrará ao mundo ocidental. Trata-se da geração M, a dos millenials muçulmanos.
Sinal da mudança dos tempos, num artigo de opinião que Saadia Zahidi – responsável pelo Centro para a Nova Economia e Sociedade do Fórum Económico Mundial – escreveu em maio no New York Times, a autora dá conta da lenta mas significativa explosão de mulheres muçulmanas que integraram o mercado de trabalho nos últimos anos, facto inédito até então e que foi possível graças a fatores como a melhoria das condições de vida, acesso a melhor educação, e também à entrada de raparigas e mulheres em cursos STEM ou ao empreendedorismo em diversos países de maioria muçulmana. Segundo Zahidi, pela primeira vez existe uma geração de mulheres muçulmanas que criam apps e negócios voltados para a comunidade e que transformam a cultura a partir de dentro. Estas jovens mulheres, assim como os homens, compõem uma nova força de compra e de poder de decisão que está a romper e que constituirá uma maioria.
Num recente relatório da agência WGSN, prevê-se que esta geração represente um quarto da população mundial (2,8 bilhões) até 2050, e que tenha uma capacidade de compra e investimento que dificilmente será ignorada.
A par do que tem acontecido na Europa nos últimos anos com o aumento de casamentos inter-raciais – até em países conservadores a este nível como Itália – parece que estamos diante de uma nova tendência, segundo a WGSN. Diferentes culturas integram-se, mesclam-se de facto e criam novas formas de estar conjuntamente, e dessas formas de estar surgem novas necessidades e exigências que pedem novos produtos, serviços e conceitos ao mercado.
O conceito de interculturalidade que tanto tem demorado a criar raízes nas culturas de diversos países – ainda mais com as constantes manifestações da extrema direita pela Europa – está finalmente a ganhar o corpo, espaço e a visibilidade que lhe são devidas. Como dizia na entrada deste artigo, não me parece que estejamos diante de uma coincidência quando olhamos para o incremento de atividades e eventos interculturais de cultura árabe em capitais pequenas como Lisboa. Se em Lisboa já se manifesta assim, como será em grandes capitais miscigenadas como Paris, mais ainda com a entrada de refugiados aos milhares? E como será daqui a vinte anos? Cá estarei para observar.