Vive em estado de alerta sem saber quando a bomba vai rebentar e a pensar o que pode fazer para não acontecer?
Diz-lhe coisas que a/o ferem, faz birra, hiberna na “tenda do silêncio” e passado “o tempo dele/a”, aparece, faz de conta que não se passou nada, e quando tenta falar com ele/a, reponde que não percebe porque está sempre a falar do passado?
Não, isso não é normal. Muito menos é saudável ou aceitável.
Porque esta é uma das situações mais recorrentes que acompanho e que maior confusão gera, decidi escrever sobre ela.
“Afinal o que é que ele/ela quer?” é uma das interrogações que mais ouvi nos últimos anos!
Afirmações como: “Já não sei mais o que fazer”, “Nada o/a satisfaz” e “estou farto/a disto. Só tenho vontade de fugir!” revelam o desespero de quem tenta, a maioria das vezes, estoicamente, por um lado, compreender, por outro, corresponder, e por outro ainda, aceitar o que é incompreensível, reprovável e inaceitável.
O seu companheiro/a muda de “estado emocional” rapidamente por “dá cá aquela palha”? Ao longo do dia o seu estado emocional varia como se passasse pelas várias estações do ano? Mostra-se satisfeito e, logo a seguir, irritadiço e insatisfeito? Quando não partilha da sua opinião como reage? Tenta sempre “ficar por cima” nas discussões, discute por discutir e desvaloriza-o?
Fica amuado/a porque vestiu as suas velhas e rasgadas calças de ganga? Porque não arrumou ou limpou do jeitinho que ele/ela faz? Porque não disse o que ele/ela queria ouvir, não fez aquilo que ele/ela queria que fizesse ou não conseguiu adivinhar o que ele/ela queria?
Até a forma como se expressa, como se ri, como fala com os outros, como os olha… é apontada como estranha e desadequada?
Parece tranquilo, mas, segundos depois, faz uma tempestade num copo de água?
Dá consigo a pensar: “Como vão ser as férias com ele/a sempre ao meu lado? Como vou aguentar este desassossego?”
Sabia que estas são situações cada vez mais recorrentes e geradoras de grande ansiedade e angústia?
Algumas dessas pessoas num simples passeio a dois, passam pelos mais variados estados de animo e fazem os seus companheiros acreditar que a culpa de não se sentirem bem e de estarem de mal com a vida é deles.
O seu companheiro dá-lhe atenção, mas rapidamente “desliga” e é como se você não existisse?
Diz querer estar em paz, mas parece gostar de estar sempre a “picá-lo” e em guerra?
Já não aguenta mais estar de “sentinela” aos humores dele/a e a pensar quando é que a bomba vai explodir?
Sabia que muitas pessoas decidem simplesmente deixar de expressar o que pensam, sentem e querem, como medida preventiva da explosão que anteveem, e cujo sofrimento antecipado lhes provoca ainda maior dor do que os danos emocionais provocados pela própria explosão?
Mas será que essa é a solução para o problema? Não me parece de todo!
Algumas dessas pessoas esqueceram como se diz a palavra “não”, como se fixam limites e regras, são peritas em evitar conflitos e em satisfazer todos os caprichos daqueles que teimam em fazer chover em cima das suas cabeças e mostrar-lhes o Sol quando lhes apetece.
E quanto mais tempo fazem chover em cima da cabeça dos outros, algumas dessas pessoas, melhor se sentem!
Sim, é verdade, por detrás destes comportamentos podem encontrar-se uma série de distúrbios e transtornos de personalidade, como sendo narcisismo, transtorno de personalidade borderline, transtorno de humor, até bipolaridade, ou outros, mas mesmo sendo o caso, isso não desculpabiliza esses comportamentos, gestos, afirmações, violência verbal ou psicológica.
Na maioria das situações que acompanho trata-se sim de egoísmo e “desempatia” crónicas. A dificuldade em perguntar-se a si próprio: “Será que é agradável estar comigo?” ou “Será que eu sou uma boa companhia?” é cada vez maior.
Algumas pessoas pensam ainda que os outros porque têm uma relação com eles são obrigados ad eterno a aturar e aguentar a sua neurose de boca calada.
Porquê escolher viver com uma pessoa que muda de humor constantemente, que parece ser cronicamente insatisfeita, que não consegue respeitar os sentimentos do outro e o outro, que quer uma coisa e logo de seguida quer outra, ou não quer nada, ou quer algo que não existe, porque simplesmente lhe apetece, que vê defeitos em tudo e em todos?
Sabia que este “quadro” pode ser o passaporte para a sua instabilidade emocional e um risco para a sua saúde mental? E o perigo é que pode estar a acontecer sem você sequer perceber, de tão preocupado que está em tentar preencher todos os requisitos e exigências, satisfazer ordens, cobranças e sabe-se lá mais o quê…para agradar alguém que nem sequer o vê de tão focado que está no seu próprio umbigo e na sua vida.
Você não tem a obrigação, exceto em algumas situações, de suportar vinte e quatro horas por dia a insatisfação e instabilidade emocional da pessoa que escolheu para companheiro. Ninguém tem! Nem deve!
E não pense que tem de o aceitar por amor ou que ele/a vai mudar com o seu amor, abnegação ou submissão. Pelo contrário.
A única forma de o seu companheiro perceber que está a contagia-lo/a e a fazê-lo/a sentir menos bem, senão tão insatisfeito/a e enervado quanto ele, é dizendo-lhe o que ele/a a/o faz sentir. Com todas as palavras!
Chamar-lhe a atenção para a necessidade que apresenta de “clonagem” e de que seja igual a ele/a, para a falta de respeito e de empatia, para a necessidade de culpabilizar, de “deitar a baixo” e de controlo, para a inconstância, muitas vezes, faz a bomba efetivamente explodir e ouvir tudo aquilo que já ouviu milhões de vezes. Mas, quem sabe fá-lo sair do ciclo vicioso, libertar parte da tensão que sente e reencontrar o seu verdadeiro “eu”.
Sim, a repetição do mesmo discurso por parte do seu companheiro, a par da insatisfação, pode ser uma constante.
Sabe porquê? Provavelmente porque tudo o que é dito e redito é o que está no coração. Por vezes o coração, fala alto, alto demais…mas também pode acontecer que ao deixar o seu coração falar, os dois se aproximem. Pior do que discutir é o silêncio e a indiferença.
A insatisfação, a irritação, a instabilidade, a ansiedade, a inconstância, o é e não é, o foco nos seus defeitos e no que faz de errado, na maioria dos casos, não é mais do que mera projeção dos detritos tóxicos libertados pelas muitas bombas-relógios que vão rebentando dentro deles próprios… Algumas pessoas conservam dentro de si muitas bombas-relógio arrumadas em caixotes, num sótão de difícil acesso chamado inconsciente.
Também a pressão que a sociedade exerce, e especialmente o vicio de comparar o companheiro, a relação e o que têm com outras “realidades alheias”, pode fazer gerar uma espécie de insatisfação crónica, e com que muitas pessoas apenas se foquem nos aspetos negativos da sua vida, subvalorizando os positivos.
Seja qual for a causa, o sintoma tem de ser avaliado. A negação da referida situação, apenas conduzirá ao seu agravamento.
O medo é nosso aliado até ao momento em que passa a ser nosso inimigo, nos petrifica, deixamos de saber quem somos e passamos a ser quem os outros querem que sejamos.
A sua vida apenas a Deus e a si pertence. A mais ninguém.
Decidir viver a sua vida com uma bomba relógio ao pescoço é uma opção sua. Porque corre o risco de viver as bombas-relógio do seu companheiro como suas e até de se identificar com elas.
Não esqueça: existe sempre a possibilidade de tentar “desarmadilhar” as bombas que lhe impingem e aprender a não ter medo das suas explosões.
Pare de andar em bico dos pés. Deixe isso para os bailarinos! Quanto mais tentar agradar, menos valor lhe vão dar. Desafie-se a olhar para a bomba e perceber como funciona.
A sua vida é a maior bênção que tem! Colocá-la nas mãos de outro alguém e deixá-la entregue aos seus caprichos, devaneios, sarcasmos e humores alternativos, não é definitivamente a melhor forma de cuidar desse presente maravilhoso e muito menos de cuidar de si e da sua saúde mental.
Uma relação saudável pressupõe que os dois se interessem por se autoconhecer, conhecer e desarmadilhar as bombas-relógio em forma de marcas que foram colecionadas ao longo da sua passagem pela vida. Talvez o verdadeiro amor seja mesmo isso:
Aceitação das bombas-relógio de cada um e, do outro, também, e cuidado, muito cuidado, com o outro… quando sentimos que uma, ou mais bombas estão a segundos de explodir dentro de nós.
E isso existe? Sim, existe! Chama-se controle das emoções, pressupõe autoconhecimento e é presságio de…
Amor de verdade.
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