Para este texto retomo notas de uma das últimas reflexões que coloquei no Blogue onde partilho ideias e histórias, o Atenta Inquietude.
No início da semana passada foi divulgado um estudo realizado por iniciativa da Direcção-Geral do Ensino Superior e desenvolvido por Diana Aguiar Vieira, investigadora e pró-presidente do Instituto Politécnico do Porto, “Determinantes e Significados do Ingresso dos Jovens no Ensino Superior” que inquiriu alunos, famílias e profissionais no âmbito do ensino secundário com o objectivo de compreender a forma como o ingresso no ensino superior é entendido.
O estudo providencia um conjunto de dados interessantes de que sublinho os que me parecem mais relevantes.
No que respeita a eventuais obstáculos ou dificuldades para ingressar e frequentar o ensino superior os alunos identificam as “barreiras económicas” como o mais complicado. Estas barreiras envolvem propinas, alojamento, transportes e alimentação, por exemplo. Nesta matéria importa também referir que alunos e famílias mostram desconhecer genericamente os dispositivos de apoio que existem neste âmbito.
O estudo revela ainda o desconhecimento da diversidade de trajectos de formação pelos quais podem optar.
No entanto, o que me pareceu mais significativo, mesmo inquietante e justificativo deste texto é a verificação de que se mantém em alunos e famílias um entendimento de que “estudar não compensa”. Esta ideia não corresponde à realidade em particular no nosso país.
Recupero o Relatório da OCDE, “Education at a Glance 2017” no qual se mostrava que a diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível do secundário, era de 69 % o que obviamente é um bom indicador sobre o impacto salarial da qualificação. Em termos comparativos a média desta diferença nos países da OCDE é de 54%.
Recordo ainda um trabalho de 2017, “Benefícios do Ensino Superior”, realizado por Hugo Figueiredo e Miguel Portela por iniciativa da Fundação Francisco Manuel dos Santos e que evidenciou como a qualificação de nível superior compensa sendo o impacto ainda mais significativo com o mestrado. O trabalho abrangeu o período entre 2006 e 2015 e considerou a população mais jovem, dez ou menos anos de experiência profissional.
Parece assim claro que a questão da qualificação de nível superior e a sua importância é frequentemente abordada com alguns equívocos.
O primeiro radica no discurso recorrentemente difundido, ampliado por alguma imprensa pouco atenta, de que considerando a elevada taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de trabalho, a precariedade assume níveis preocupantes e muitos jovens com qualificação foram e são forçados a sair.
Um outro equívoco remete para o já referido estatuto salarial. Apesar da degradação salarial, da precariedade e do habilidoso recurso a estágios, nem sempre remunerados ou seguidos de emprego, a formação superior ainda compensa como já vimos.
É evidente que não podemos esquecer o nível ainda significativo de desemprego entre os jovens, em particular entre os jovens com qualificação superior, obrigando tantos a partir à procura de um futuro que por cá não vislumbram mas esta questão decorre do baixo nível de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que “não adianta estudar” não colhe e não tem sustentação sendo “suicida” numa sociedade pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e contrariamente à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um “país de doutores”, continua, em termos europeus, com uma das mais baixas taxas de qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens. Estamos, aliás, em risco de não cumprir os objectivos definidos no quadro da UE para 2020 no que respeita aos níveis de qualificação, 40% de licenciados entre os 30 e os 34 anos.
Conseguir níveis de qualificação compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível superior compensa ainda mais.
Portugal não tem gente qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Temos também um mercado de trabalho que a crise e as políticas austeritárias degradaram e que não absorve uma parte ainda significativa da mão-de-obra qualificada, sobretudo jovem. No entanto, em nome do presente e do futuro não podemos acolher a mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
Estudar compensa, definitivamente. A qualificação é um bem de primeira necessidade.
(Texto escrito conforme a antiga ortografia)