Até há pouco tempo, quando se terminava a formação de base, sobretudo quando se concluía o ensino universitário, pressuponha-se que as pessoas estariam preparadas para desenvolver a sua carreira profissional com base nos skills então adquiridos. Claro que muitas foram optando, e bem, por complementar essa formação acreditava-se que caso não o fizessem (por opção ou por não poderem), teriam a possibilidade de desenvolver uma carreira. Hoje em dia a realidade é outra, e será substancialmente diferente num futuro (muito) próximo.
Com o avanço tecnológico a que assistimos – o conhecimento técnico duplica a cada dois anos – será muito fácil as pessoas ficarem desactualizadas e fora do mercado em poucos anos, pois o seu skill set (conjunto de habilitações, aptidões e capacidades) já não será adequado às exigências do mercado. Por isso, quando pensamos hoje que profissões serão as mais interessantes para os nossos filhos seja muito difícil prever se as mesmas existirão quando eles chegarem ao mercado de trabalho. Isso quer dizer que o trabalho dos Pais está mais dificultado, e que os próprios Pais têm de estar muito atentos para não ficarem fora do mercado. A tudo isto está subjacente um enorme desafio para todos os governos, ou seja, a reforma do sistema educativo e a capacidade que terão de ter, tal como as empresas, para se adaptarem às novas exigências, caso contrário estarão a formar pessoas obsoletas, sem os skills e competências necessárias.
Aprendizagem ao longo da vida – a nova norma
É necessária uma enorme vontade e capacidade de aprender continuamente e ser capaz de se reinventar ao longo da vida profissional o que, inclusivamente, poderá originar múltiplas carreiras. Sim, o mercado de trabalho entende (cada vez mais) que um indivíduo tenha diferentes carreiras ao longo da vida, mas para que isso aconteça é impreterível que consiga re-utilizar e actualizar os seus skills, bem como adquirir novos. Esta capacidade será uma das mais procuradas nos profissionais de futuro (já o é, mas não tão vincadamente).
“Learnability Quotient” – Capacidade de aprender
Para além do quociente emocional, este quociente de aprendizagem será o mais procurado, pois reflecte o desejo e capacidade de aprender e adaptar-se às constantes mudanças no mercado de trabalho, bem como à inovação tecnológica que sucede no mesmo. Quando perceber quais são os seus skills favoritos e aqueles que o distinguem pode focar-se em aprender e desenvolver os mesmos, de forma a gerir a sua vida profissional. Poderá, inclusivamente, selecionar melhor as empresas onde pretende trabalhar, ou seja, aquelas que necessitam do seu skill set que o torna mais competitivo.
Outros Skills e Competências para ter sucesso na nova era tecnológica:
Agilidade – diferente de flexibilidade (reacção a algo que aconteceu). Uma pessoa ágil é alguém com a capacidade de pensar antecipadamente em mudanças que ocorrerão no mercado e assim, ser capaz de ajudar a sua empresa a posicionar-se e ganhar vantagem competitiva.
Capacidade de adaptação e evolução – como referido, é essencial para o novo paradigma social em que a mudança, não só é constante, como acontece em várias áreas em simultâneo. Quem não conseguir adaptar-se e evoluir estará fora do mercado de trabalho.
Capacidade analítica – quem tem esta capacidade tem uma probabilidade de ter no mínimo uma carreira interessante. Se conseguir juntar a esta uma boa capacidade de comunicação, interacção e criatividade, então está pronto para o sucesso.
Capacidade de comunicação – é essencial ter a capacidade de verbalizar o seu conhecimento. Somente através de uma comunicação efectiva se consegue fazê-lo, bem como liderar e mobilizar as pessoas com quem trabalha.
Coragem – Para tomar decisões é preciso coragem. Para liderar é preciso coragem. Até para sermos nós mesmos é, muitas vezes, preciso coragem.
Energia / Drive – as organizações necessitam de pessoas enérgicas, capazes de motivar os outros liderando por exemplo através das suas iniciativas e capacidade de fazer acontecer.
Ética – Sempre foi imprescindível, mas terá um outro nível de intervenção quando entramos nesta era da robótica onde alguns dos valores e pilares sociais terão de ser repensados.
Foco – extraordinariamente necessário, sobretudo numa sociedade em que a informação (e o ruído) é mais do que muita, logo facilmente pode existir dispersão e falta de capacidade de concretização.
Gestão de projectos – é outra competência que junta alguns skills, nomeadamente capacidade de organização, de comunicação, interacção, liderança e influência.
Interagir eficazmente – num mundo cada vez mais impessoal torna-se premente que as pessoas interajam e consigam comunicar entre elas.
Liderar e influenciar – Para além da sempre importante capacidade de liderar, o futuro necessita de pessoas capazes de influenciar, ou seja, muitos dos colaboradores vão estar fora do headcount da empresas, logo as suas agendas poderão não coincidir com a sua e da empresa que representa.
Network e Colaboração – O conceito de trabalho colectivo, em colaboração e em partilha é uma tendência cada vez mais marcante. Um grande número de empregos futuros passarão pelo “co-“. Ou seja, a era do conhecimento, da globalização e agora da tecnologia criaram a base para a partilha constante. As pessoas trabalham cada vez mais em rede e de forma aberta, partilhando o seu conhecimento e competências, de forma a poderem maximizá-las. Para que isto aconteça consigo tem de desenvolver o seu network, de forma a fazer parte desta rede.
Paixão / Emoção – são as emoções que nos vão distinguir dos robots, sem estas poderíamos efectivamente ser replicados por máquinas, mas assim continuaremos a ser únicos.
Pensamento criativo – tal como as emoções será o que diferencia o homem da máquina. A capacidade de pensar de forma diferente, inesperada e inusitada não é replicável por uma máquina, por muito inteligente que seja.
Resiliência – sem esta não será possível ultrapassar frustrações e obstáculos.
Resolução de problemas complexos – esta competência junta os dois skills anteriores: capacidade analítica e criatividade. O primeiro é fundamental para perceber a raiz do problema e o segundo ajuda a encontrar a solução, que não seria óbvia para todos, mas será a mais eficiente para o problema em causa.
Visão / Pensamento estratégico – A capacidade de elaborar planos eficazes de acordo com os objetivos de uma organização, tendo sempre em consideração o contexto económico-social em que esta se encontra. O pensamento estratégico ajuda os gestores a analisar as questões de um ponto de vista mais holístico, a pensar no longo prazo, a estabelecer metas, a determinar prioridades e a identificar potenciais riscos e oportunidades.
Como é óbvio, não é possível uma pessoa não ter todo este skill set, logo não se preocupe se não se revê em muitos destes pontos. Contudo, é fundamental que saiba que skills tem e quais os que necessita adquirir para a sua função presente e futura. Ter conhecimento da sua vantagem competitiva face aos outros (a sua concorrência), é fundamental para se preparar para um mercado cada vez mais competitivo, onde para além de pessoas terá robots a desempenharem muitas funções.
Dentro de uma ou duas décadas, quem não for capaz de seguir o caminho da aprendizagem contínua e adaptação ao contexto tecnológico ficará, muito provavelmente, sem trabalho. Estaremos a caminhar para uma situação em que o trabalho será só para uma elite e que a restante população deverá ocupar-se com outras tarefas? Esta é uma das perguntas mais perturbadoras do nosso tempo e por isso já temos governantes, CEOs e líderes globais a debaterem sobre como reorganizar uma sociedade que daqui a 30 anos poderá ter mais de 50% de desemprego. Esta problemática é muito complexa, mas a sociedade, tal como a conhecemos, e que tem o trabalho como um dos seus pilares, terá de se reestruturar profundamente caso uma percentagem significativa das pessoas deixe de ser empregável.
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)