No dia em que a Irlanda fazia história ao bater, pela primeira vez, os All Blacks (que vinham numa senda de vitórias que lhes garantia a obtenção de uma série de records e que os levou a merecer o título de melhor seleção de rugby de sempre), no Jamor (a casa do rugby português) os nossos sub 18 fizeram um jogo, no mínimo, muito interessante contra a equipa sub18 da seleção do trevo (a Irlanda).
Durante uma quase primeira parte inteira, e enquanto o ritmo de jogo dos irlandeses não quebrou o físico e disponibilidade mental dos jovens Lobos, mesmo sem apresentarem um jogo de encher os olhos, Portugal esteve na frente do marcador e foi patenteando o público presente com excelentes indicadores acerca da sustentabilidade do nosso rugby.
Bem a defender e bem a aproveitar os erros do adversário, os nossos sub18 forma criando problemas à Seleção Irlandesa, assim como foram eficazes parar as iniciativas atacantes do adversário.
E houvesse um pouco mais de acerto no jogo ao pé, o jogo poderia ter-se complicado, ainda mais, para os lados dos Irlandeses.
A vitória, no entanto, acabaria por pender naturalmente para os lados da seleção irlandesa que, nos últimos 20 minutos de jogo, conseguiu dilatar a diferença do resultado.
Mas o que me parece importante retirar do jogo de sábado do Jamor é tentarmos perceber a razão de conseguirmos jogar de igual para igual nas nossas seleções jovens e, nos seniores, aparecer um enorme fosso com muitas dessas seleções.
Ainda este anos essa diferença foi evidente quando, na distância não superior a um mês, a nossa seleção sénior perder por 50 pontos com a seleção alemã e a nossa seleção sub20 ganhou por 40 pontos.
Muitas vezes aponta-se, como uma das causas principais dos fracos resultados da seleção sénior, o nível baixo do campeonato nacional e o fraco trabalho realizado nos clubes.
A mim parece-me que os resultados das nossas seleções jovens apontam em sentido contrário.
Na verdade, se o trabalho dos clubes fosse mau não haveria jovens com qualidade para darem qualidade às seleções sub17/18 e 20.
E no caso particular da seleção que jogou sábado, registe-se o número elevado de jogadores do Montemor (clube sem tradição de vitórias no principal campeonato nacional) como prova de que os clubes nacionais têm capacidade de fazer bom trabalho nas suas escolas.
No que respeita à alegada fraca qualidade do campeonato nacional parece-me também infundada tal razão.
Primeiro porque, mesmo comparando com a qualidade dos campeonatos que existiria nos anos que antecederam a ida ao Mundial de 2007, não se pode dizer que, naquela altura, a qualidade era muito melhor.
Depois porque, sendo a seleção o lugar onde devem estar os melhores jogadores que, no momento de cada jogo de Portugal, estão elegíveis para representar o País, além do campeonato nacional, considerando os muitos e bons luso descendentes que jogam, principalmente, em França, a base de recrutamento poderia e deveria ser bem mais ampla.
Parece-me pois que o grande desafio está em encontrar-se uma forma/modelo que seja adaptável à realidade portuguesa e que, de uma forma consistente, permita garantir que, a cada jogo de Portugal, estejam incluídos na equipa, de facto, os nossos melhores jogadores.
Um modelo que motive e dê condições para os portugueses que jogam lá fora virem ajudar Portugal e que, simultaneamente, motive e estimule os jogadores do campeonato nacional a “venderem” caro o lugar na seleção aos jogadores que vêm de fora.
De um lado trabalhar o espírito de missão e, do outro lado (o de cá), motivar e estimular os jogadores a estarem em condições físicas e técnicas cada vez mais idênticas aos de lá.
Este será o trabalho de Martim Aguiar que, não sendo fácil, estou certo que tem todas as qualidades e capacidades para o fazer.