E quando aquela pessoa de quem gosta, seja namorado, companheiro, ou tão somente, uma pessoa com quem gosta de estar…não lhe atende o telefone, não lhe liga de volta, não responde aos seus sms, o ignora por completo, parece ter-se evaporado e, dias depois, aparece bem disposto, com um sorriso nos lábios, não toca no assunto, e age como se nada tivesse acontecido? O que fazer? O que pensar? Como gerir esta situação?
Deve estar a estranhar eu estar a escrever sobre este tema. Mas ultimamente tenho tido conhecimento de várias situações destas e de pessoas que me perguntam o que fazer quando isto acontece, quer se trate de relações de amor, de amizade, ou simplesmente relações sociais.
Neste artigo torna-se para mim impossível abordar todas as situações em que a referida situação ocorre, por essa razão privilegiarei as relações amorosas, prometendo mais tarde voltar a este mesmo tema.
O que pensar e fazer então com quem “vai e vem”, ora está, ora não está, “viaja e regressa”, e vivencia essa “realidade” como algo perfeitamente natural?
A minha sugestão é a de que pare um pouco, se sente tranquilo e confortavelmente num lugar silencioso, pegue numa folha de papel e num lápis, e tente perceber que razões estarão por detrás desse mesmo comportamento.
Andar de “vaivém” a toda a hora, ligar todos os dias numa semana, e depois deixar de ligar três, quatro, seis dias, uma semana, um mês… voltar a aparecer e não fazer menção à referida situação, especialmente tratando-se de um namorado ou companheiro, é tudo menos natural e merece alguma reflexão, tanto no início de um namoro, como no caso deste já durar há algum tempo, ou tratando-se de uma relação de compromisso já iniciada há muito tempo.
Também pode acontecer naquelas situações em que não são namorados, nem companheiros, mas em que já existiu alguma espécie de proximidade e intimidade entre os dois, sem que no entanto nenhum deles tivesse tido a coragem de perguntar a si próprio e ao outro: Afinal o que é que tu queres desta relação?
Que razões conduzem uma pessoa, ora a querer estar na vida da outra, ora a afastar-se e a desaparecer?
Numa relação amorosa as razões de tal comportamento podem ser as mais variadas, designadamente:
Medo e receio
Especialmente no início de uma relação amorosa, o medo de não ser aceite ou rejeitado, de não conseguir corresponder às expectativas do outro, o medo do compromisso, de investir e não dar certo, o receio de sofrer o já sofrido e da história se repetir de novo, entre outros, fazem com que algumas pessoas entrem e saiam do “carrocel do Amor”, apareçam e desapareçam, fujam e voltem, acreditem e não acreditem, deem e não deem, liguem e não liguem, evitem e se aproximem, atendam e não atendam, respondam e não respondam, partilhem e não partilhem, estejam e não estejam…
Existem ainda aquelas em que o medo as bloqueia de tal forma que a sua mente as faz acreditar existir uma “montanha” intransponível à frente do seu nariz, e assim que ganham coragem, logo a perdem, e voltam atrás, procurando “delirantemente” as mil e uma formas de esquecer a pessoa que as faz sentir o seu “mundo andar à roda” e sair da sua “inconfortável” zona de conforto. Essas pessoas podem ficar longos períodos de tempo em “estado ausente”, ainda que tendo a expectativa de que as coisas sejam diferentes. Embora não saiam do seu “pedestal”, vão observando o que se passa na vida do outro e podem dar vários sinais, ainda que completamente contraditórios, do seu interesse nessa pessoa. Podem até passar vários anos nesse mesmo “registo de proximidade-afastamento”, ora procurando e conversando, ora afastando-se repentinamente à medida que a proximidade e intimidade se tornam maiores.
Dificuldade em confiar no outro
Também a dificuldade em confiar pode fazer com que estes comportamentos surjam. A vivência de algumas experiências amorosas marcantes como sendo uma situação de rejeição, abandono ou infidelidade pode fazer com que a pessoa sinta sérias dificuldades em estabelecer uma relação de confiança com o outro, e sinta que o outro pode trair a sua confiança a qualquer momento, o que o pode levar a afastar-se.
Dificuldade em acreditar na relação
O pensar que a relação não vai “dar certo” por uma ou por mil razões, a maioria delas fundadas em meras pressuposições, pode levar a que nos dias em que o ceticismo “reina”, a pessoa se afaste, e nos dias em que a coragem seja dominante, se aproxime.
Dificuldade em regular a distancia mínima em relação ao outro, o que pode conduzir á famosa situação “nem contigo, nem sem ti”
Algumas pessoas apresentam dificuldade em se afastar do outro, sentindo-se angustiadas quando se separam. Então, decidem afastar-se mais ainda para não o voltar a sentir. Podem aproximar-se de novo passados alguns dias e voltar a afastar-se.
Outras, ainda, vivem a proximidade com o outro de forma também ela angustiante, sentindo-se “invadidas”, e escolhem afastar-se para não o sentir. Podem sentir que se “diluem” no outro, e que de alguma forma, perdem a sua identidade e individualidade. Afastam-se para se voltarem a encontrar com elas e para sentirem que “existem” sem o outro.
Não querem compromissos ou não sabem o que querem
Muitas pessoas que apresentam o referido comportamento de aparecer e desaparecer, ligar e “desligar”, falar e deixar de falar, e especialmente aquelas que passados alguns dias aparecem e nem tocam no assunto, podem não estar “sintonizadas” para ter uma relação de compromisso com quem quer que seja, porque simplesmente esse não é o seu projeto de vida nesse momento, ou porque não sabem se o querem ou não. O facto de não se desculparem ou sequer fazerem alusão ao assunto pode ser visto como um forte indício dessa mesma realidade e de que pensam que não devem quaisquer satisfações.
Não quer falar consigo porque precisa estar consigo próprio
No início de uma relação, ou mesmo quando a relação já dura há algum ou muito tempo, pode acontecer o seu companheiro/a sentir necessidade de se afastar na sequência de qualquer conflito, problema pessoal ou simplesmente porque precisa estar só.
Estas são algumas das razões porque o seu namorado, companheiro, “amigo colorido” recém-conhecido ou há muito conhecido, não respondem aos seus sms, emails, telefonemas, messenger…
Também pode acontecer que não queira falar consigo, porque não pode, porque está a trabalhar, porque está a descansar, porque não lhe apetece, porque está a fazer algo importante para ele, porque está a falar com outra pessoa… porque está indisponível para si.
É a resistência a esta indisponibilidade e a sua necessidade de atenção e de controle da situação que o faz ter pensamentos que o fazem sentir menos bem.
Forçar quem quer que seja a conversar consigo, quando essa pessoa não lhe apetece ou mesmo não quer, não o vai fazer sentir melhor acredite.
Antes de conhecer essa pessoa já tinha uma vida, certo?
Então, o que pensar se essa pessoa lhe diz, ainda que através do “silêncio” que não quer falar consigo, nem estar consigo?
Pensar que tal como você, essa pessoa tem o direito de escolher não falar nem estar consigo, e você não tem controle sobre essa decisão.
O que fazer?
Respeitar a decisão dessa pessoa, aceitando-a, e afastando-se também.
Quando essa pessoa se aproximar de novo, então é momento de conversarem, se assim o decidir, de perceber porque isso acontece, de expressar o que os seus comportamentos o fazem sentir, e especialmente de escolher se quer, ou não, essa pessoa na sua vida.
Se não se voltar a aproximar, é porque seguiu o seu caminho…