Só se preocupa com a entrevista momentos antes de entrar na sala? Não conhece o que produz e/ou vende a empresa para a qual se candidatou? Não sabe o percurso profissional de quem o vai entrevistar? Não tem perguntas pré-elaboradas e respostas preparadas? Se se identifica com algumas destas frases é porque então não se preparou adequadamente para uma das etapas mais difíceis e marcantes do processo de mudança profissional: a Entrevista!
Em artigos anteriores já referi o desafio que pode ser conseguir uma entrevista e integrar um processo de recrutamento. No entanto, após superada essa etapa, as dificuldades só têm tendência para aumentar, pois é agora que será avaliado e comparado com outros profissionais que também procuram uma mudança na sua carreira.
A verdade é que conseguir uma entrevista não é a tarefa mais difícil, mas deixar uma óptima impressão também não é tão simples como possa pensar. Provavelmente já lhe aconteceu ir a uma entrevista e após 10 minutos ter percebido que não quer trabalhar naquela empresa ou mesmo com a pessoa que está à sua frente. O que fazer? NUNCA deixe de dar o seu melhor. Não sabe se amanhã esta mesma empresa o poderá convidar a ocupar uma posição mais interessante, ou se encontra o entrevistador, daqui a uns meses ou anos, numa situação semelhante. Deixar uma boa imagem é fundamental, faz parte do seu marketing pessoal – esta regra também se deve aplicar à empresa que recruta e ao entrevistador.
Erros a evitar
- Erros elementares, como chegar atrasado a uma entrevista, podem ser agravados por não se pedir desculpa pelo atraso, ou dizer que tem tempo limitado para a reunião. Muito popular hoje em dia é deixar o telemóvel em cima da mesa e tê-lo a tocar ou a vibrar incessantemente. Mas tudo piora se se atende uma chamada para marcar uma partida de paddle ao final do dia.
- Falta de preparação para a entrevista. Muitos são os candidatos que chegam a uma conversa com o decisor final e que ainda não perceberam bem o negócio da empresa ou mesmo a função. Isso reflecte-se muitas vezes na falta de questões ou questões muito simplistas quando lhe passam a palavra. Neste cenário o candidato pode até fazer uma entrevista fantástica, mas dificilmente é o escolhido.
Esta impreparação pode acontecer porque o candidato perdeu interesse na posição. Se se encontrar numa situação semelhante, opte por um destes cenários, que não deixarão uma imagem tão negativa: a) desmarque a entrevista final e explique que não pretende avançar (poupando o investimento de tempo de todos os intervenientes) ou b) vá à entrevista bem preparado de modo a que, mesmo que não avance neste recrutamento, possa vir a ser considerado no futuro para outras áreas.
- Durante a entrevista existem erros comportamentais importantes, nomeadamente: o não olhar directamente o seu interlocutor, adoptar uma posição demasiado relaxada ou demasiado hirta, ter os braços cruzados em posição defensiva, comunicar com agressividade no discurso e no trato. A entrevista deve ser, acima de tudo, uma conversa onde haja oportunidade para ambas as partes colocarem questões e conhecerem-se verdadeiramente. Esteja também atento a outros erros de comunicação verbal e não-verbal: não fale num tom de voz muito apagado ou demasiado excitado e ansioso, não teatralize o discurso, e não adopte uma postura e/ou linguagem demasiado informais.
Uma entrevista nunca deverá ser um jogo ou conflito entre os interlocutores. Quando se cria uma atmosfera positiva, existe uma maior partilha e isso permite a ambas as partes avaliarem se o projecto em causa é uma mais valia para todos.
- Não seja o candidato metamorfose: Prepare-se, mas não se transforme em algo que não é, somente na expectativa de agradar ao entrevistador. A real consequência desse comportamento revela-se se for o candidato escolhido. Pois nesse caso como manterá um comportamento pontual e esporádico de forma definitiva?
- As suas respostas não devem ser vagas, longas ou inconclusivas. Se o entrevistador lhe colocar a mesma questão três vezes será porque, ou não está a ouvir a pergunta, ou a sua resposta não foi clara e objectiva.
- Escute activamente. O fenómeno anterior está frequentemente ligado a um outro erro: a de capacidade de escuta activa e de empatia com a pessoa que o entrevista. Tenha a capacidade de perceber a pergunta e o motivo pelo qual está a ser colocada. Não com o intuito de dar a resposta esperada ou politicamente correcta, mas para ser objectivo e claro na sua resposta.
- Dizer mal do actual ou anterior empregador. Este erro, não tão comum, mas ainda assim frequente, consiste em maldizer a sua actual ou ex-empresa e/ou colegas e chefias directas. Este comportamento pode ter várias leituras, mas uma delas é que o candidato também não se colocou em causa e que transfere a responsabilidade da saída ou de insucessos para terceiros. Para além disso, se o faz em relação, ao passado poderá muito bem fazê-lo depois de o recrutarem.
Como devo então actuar?
Depois de ter efectuado milhares de entrevistas posso garantir-vos que o melhor é serem genuínos, serem vocês. Se há algo único num indivíduo é ser ele mesmo. Claro que num contexto de entrevista devemos ter algum polimento ou mesmo cuidado na forma como gerimos a reunião. Valorize-se, mas nunca prometa o que não pode dar.
Lembre-se:
- Seja autêntico, transparente e intelectualmente honesto. Tentar confabular e omitir factos ou situações menos positivas só resultará se o entrevistador não conhecer o mercado ou estiver, ele próprio, mal preparado. Ainda assim, e independentemente disso, mais cedo ou mais tarde será fácil perceberem o que aconteceu. Partilho um episódio que se passou comigo: na mesma semana, e por razões distintas, entrevistei um quadro médio de uma grande empresa e o seu chefe directo. Em ambos os casos falámos sobre o pacote salarial e surpreendentemente a chefia indicou auferir um salário 25 % inferior ao do seu subordinado… Conhecendo o mercado, sei que a remuneração indicada pela chefia está alinhada com os respectivos patamares salariais, e mais ainda, que não faria sentido que me indicasse um salário inferior ao real. Eu entendo que este quadro médio tivesse a expectativa de uma substancial melhoria salarial numa mudança profissional. Então diga-o explicitamente, pois o que não está correcto é passar uma informação errada.
- Prepare-se e Prepare-se. Deve conhecer tão bem ou melhor que o entrevistador a empresa para onde poderá ir trabalhar. Deve conhecer a sua cultura e organização, os perfis que tipicamente recrutam, os principais desafios que poderá encontrar. Deve recolher informações no mercado junto de diferentes stakeholders.
- Defina uma estratégia para a entrevista, que lhe permita transmitir as informações que considera mais relevantes para a função e deixar duas ou três ideias fortes que o façam permanecer na memória do entrevistador – storytelling tende a funcionar muito bem.
- Não caia na vulgaridade das respostas típicas. Todos já sabemos que o seu principal defeito é a teimosia e que não há nada que o motive mais do que um desafio, certo…? Prepare as suas respostas verdadeiras mas seja único. Isso vai distingui-lo dos restantes candidatos.
- Autoconhecimento é fundamental. A preparação e a transparência também se revelam numa das questões mais comuns em ambientes de entrevista – “Quais os seus pontos fortes e pontos a melhorar?”. Continuo a ver profissionais responderem que nunca pensaram no tema e outros, que por não se quererem expor, dizerem que não se lembram de nenhuns. Conhecermo-nos é fundamental para melhorarmos e isso é valorizado por qualquer empresa.
- Prepare-se, mas não para um monólogo. Tenha respostas pensadas e preparadas, mas não vá para uma entrevista com discursos memorizados. Esteja aberto ao diálogo e torne a conversa bidireccional. Deste modo terá oportunidade de reunir mais informação sobre a posição e a empresa.
- Conheça o(s) entrevistador(es). Procure antecipar questões e prepare perguntas para lhes colocar. Seja efectivamente curioso sobre a posição e empresa.
- Seja ágil e adapte-se às circunstâncias. Para isso tem de saber ler o ambiente à sua volta e ajustar-se. Por exemplo, pode ter interlocutores que gostem de pausas para pensar e aí tem de saber gerir os silêncios. Noutro caso pode ter um entrevistador que gosta de se ouvir, e aí o seu papel é claramente o de ouvir e tentar extrair o máximo de informação para o futuro.
Em forma de conclusão reforço: acima de tudo, é fundamental que durante a entrevista seja você próprio. Mesmo que não seja seleccionado, saberá que deu o seu melhor e que deixou uma boa impressão. E isso pode trazer oportunidades futuras.
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)