No rescaldo das presidenciais o que aprendemos com Marcelo? O que ficou depois da espuma da campanha?
A ideia de que para ter sucesso na política é preciso compreendê-la bem mas fugir dela ao mesmo tempo.
Marcelo e Sampaio da Nóvoa fizeram-no pela primeira vez com sucesso em Portugal. Sendo ambos políticos, não são profissionais da política. Isso é mais claro em Sampaio da Nóvoa mas como conseguiu um fundador do PPD/PSD, ex-ministro e secretário de estado, não ser visto por todos como um profissional da política?
Fazendo tudo ao contrário da tradição e descolando-se da política, dos políticos e dos partidos.
Anos de televisão fizeram com que passasse a ideia de que não é bem um político mas um comentador. Anos de avaliações fizeram com que se assumisse como um professor, colocando-o acima dos políticos. Anos de críticas partidárias à esquerda e à direita afastaram-no um pouco de ambos os lados da barricada política.
Fazendo uma campanha solitária sem deixar que a ele se colassem em excesso os seus apoiantes políticos permitiram-lhe reforçar o lado individual da candidatura.
Não fazendo arruadas nem grandes comicios que não trazem votos percebia-se a vontade de mudar tradições anacrónicas. Abrindo e encerrando a campanha numa vila do interior com 4600 habitantes e assim demonstando proximidade de quem dela sente mais falta e afastando-se do sempre criticado eixo Cascais – Restelo.
Gastando um quinto do montante investido pelo seu concorrente mais directo, demonstrando capacidade de fazer mais com menos. Dispensando mandatários de grande notoriedade, entourages de famosos ou até mesmo primeira dama mostrou que se bastava.
Marcelo não fez campanha, fez política e fê-la como quem não a faz.
Claro que, nestas eleições e começando no patamar em que começou, Marcelo só tinha votos a perder e perdeu alguns – começou nos 61% e acabou nos 52%. Não perdeu votos ao ponto de por em causa a sua eleição mas ainda perdeu bastantes.
Sempre que teve de descer ao nível da política, perdeu votos, como foi o caso dos debates. Estava habituado a pivots que lhe deixavam assumir as rédeas do programa e raramente faziam o contraditório. Estava habituado a falar mas já não tanto a debater. Coisa de professor. Quando foi obrigado a ouvir, a retorquir, a debater, quando apanhado em falso, quando enconstado à parede, estranhou e reagiu. Ficou-lhe mal. Não parecia o Marcelo que as pessoas “conheciam”. O candidato com a energia e informalidade que Cavaco nunca teve. Um candidato que muitos portugueses acreditam conhecer bem, a ponto de lhe perdoarem fraquezas. Como se faz a alguém da nossa família.
Marcelo com o seu imbatível à vontade social e aproveitando a sua dimensão mediática fez com que fossem as pessoas a querer-se aproximar dele e não o contrário.
Marcelo esteve sempre por cima e acima dos concorrentes e tentou sempre estar acima da vida política. Foi suficiente para ganhar mas não para evitar a abstenção.
No nosso panorama político há de, um dia, aparecer alguém que faça ainda mais e melhor do que Marcelo, mas a estratégia de sucesso passa por aqui.