Todos nós já ouvimos com bastante frequência afirmações como “é da idade” ou “com a idade passa” para avaliar ou explicar comportamentos observados nos mais novos.
Este tipo de afirmações é usado em diferentes idades e circunstâncias. Tanto as aplicamos a crianças muito pequenas, bebés, como a adolescentes e jovens.
Confesso que muitas vezes sinto alguma inquietação com estes discursos e partilho essa inquietação.
Em primeiro lugar, creio que as usamos sobretudo quando o que observamos nos parece menos positivo e expressamos com o recurso ao “é da idade” e “com idade passa” a crença quase mágica em que o tempo, só por passar, modifique algo que não nos parece desejável.
Na verdade, sendo certo que a passagem do tempo produz alterações não é seguro que alguns comportamentos que nos parecem negativos, a birra excessiva e recorrente ou a resposta desabrida e fugidia do adolescente, por exemplo, se alterem só porque ficaram um pouco mais velhos. Corremos o risco de que comportamentos desta natureza se interiorizem e passem a fazer parte do “arsenal” relacional de crianças ou adolescentes o que não será, evidentemente, desejável.
Por outro lado, apesar do que sabemos e do que conhecemos do desenvolvimento e forma de funcionar dos mais novos em cada idade nos ajudarem a ler os seus comportamentos é importante perceber que nem tudo o que observamos neles se explica apenas pela idade. A forma como são educados e acompanhados, no contexto familiar ou no contexto escolar e a relação que estabelecem com o que está à sua volta contribuem decisivamente para os comportamentos que evidenciam.
Sendo assim, os comportamentos manifestados não são explicados unicamente pela “idade”, é fundamental tentar perceber como todas as outras dimensões influenciam esses comportamentos. Se assim não procedermos mais dificilmente poderemos esperar que o “tempo que passa” altere, só por passar, o que nos parece menos bem.
A terceira fonte de inquietação prende-se com o facto de que muitas vezes estas expressões traduzem alguma insegurança ou dificuldade em perceber a razão para tais comportamentos e, sobretudo, a dificuldade que intuímos ou sentimos em modificá-los. Atribuindo à idade delegamos no tempo a capacidade para alterar o que não conseguimos. Sendo optimista pode acontecer que as mudanças que certamente vão ocorrendo na vida de crianças e adolescentes produzam alterações no sentido em que desejamos mas é melhor não confiar excessivamente nessa alteração espontânea.
De tudo isto resulta que os comportamentos menos desejados que observamos em crianças, adolescentes ou jovens não devendo ser sobrevalorizados também não é desejável que sejam desvalorizados com a explicação que “com a idade passa”, pode não “passar”.
Na verdade a melhor forma de alterar comportamentos que achamos importante e necessário modificar passa, fundamentalmente, por perceber o porquê e as circunstâncias em se desenvolvem, como vimos a idade, seja qual for, não explica tudo.
Também me parece relevante aceitar que, por vezes, só o nosso olhar pode não ser suficiente para perceber porquê e como alterar. Sem receio e com confiança podemos conversar com alguém que nos possa ajudar. Solicitar apoio quando sentimos dificuldades não é sinal de fraqueza, é sinal de inteligência e preocupação.
Como tantas vezes afirmo uma das melhores ferramentas que em educação podemos usar é a atenção, estar atento é, na verdade, o melhor ponto de partida para que tudo possa correr melhor neste universo tão complexo quanto “simples” que é a educação.
Estar atento é “querer ver” e entender mesmo o que nos possa inquietar. Só assim podemos ajudar quem educamos.
(texto escrito conforme a antiga ortografia)